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Capítulo Dezoito

O Senhor Vāmanadeva, a Encarnação em Forma de Anão

Este capítulo descreve como o Senhor Vāmanadeva apareceu e como foi à arena sacrificatória de Mahārāja Bali, que O recebeu bem e satisfez-Lhe o desejo abençoando-O.

Ao aparecer neste mundo, o Senhor Vāmanadeva surgiu do ventre de Aditi e estava completamente equipado com búzio, disco, maça e lótus. Sua tez era enegrecida, e Ele Se vestia com roupas amarelas. O Senhor Viṣṇu apareceu em um momento auspicioso, no Śravaṇa-dvādaśī, quando a estrela Abhijit acabava de nascer. Naquele momento, em todos os três mundos (incluindo o sistema planetário superior, o espaço exterior e esta Terra), todos os semideuses, as vacas, os brāhmaṇas e mesmo as estações estavam felizes com o aparecimento de Deus. Portanto, esse dia auspicioso chama-se Vijayā. Quando a Suprema Personalidade de Deus, cujo corpo é sac-cid-ānanda, apareceu como o filho de Kaśyapa e Aditi, ambos os Seus pais ficaram muito maravilhados. Após Seu aparecimento, o Senhor assumiu uma forma de anão (Vāmana). Todos os grandes sábios expressaram o seu júbilo e, na presença de Kaśyapa Muni, realizaram a cerimônia de natalício do Senhor Vāmana. No momento da ceri­mônia em que receberia Seu cordão sagrado, o Senhor Vāmanadeva foi honrado pelo deus do Sol, por Bṛhaspati, pela deusa que preside o planeta Terra, pela deidade dos planetas celestiais, por Sua mãe, pelo senhor Brahmā, por Kuvera, pelos sete ṛṣis e por outros. Então, o Senhor Vāmanadeva visitou a arena de sacrifício situada ao norte do rio Narmadā, no campo conhecido como Bhṛgukaccha, onde os brāhmaṇas da dinastia Bhṛgu realizavam yajñas. Usando um cinto de palha muñja, uma veste superior feita de pele de veado e um cordão sagrado, e carregando em Suas mãos uma daṇḍa, uma sombrinha e um cântaro (kamaṇḍalu), o Senhor Vāmanadeva apare­ceu na arena de sacrifícios de Mahārāja Bali. Devido à Sua presen­ça transcendentalmente refulgente, todos os sacerdotes ficaram com seus poderes ofuscados e, devido a isso, levantaram-se de seus assentos e ofereceram orações ao Senhor Vāmanadeva. Mesmo o senhor Śiva aceita sobre sua cabeça a água do Gaṅges gerada do dedão do pé do Senhor Vāmanadeva. Portanto, após lavar os pés do Senhor, Bali Mahārāja imediatamente colocou sobre sua cabeça as águas dos pés do Senhor e percebeu que ele e seus predecessores certamente haviam sido glorificados. Então, Bali Mahārāja indagou sobre o bem-estar de Vāmanadeva e solicitou ao Senhor que lhe pedisse dinheiro, joias ou o que quer que desejasse.

Texto

śrī-śuka uvāca
itthaṁ viriñca-stuta-karma-vīryaḥ
prādurbabhūvāmṛta-bhūr adityām
catur-bhujaḥ śaṅkha-gadābja-cakraḥ
piśaṅga-vāsā nalināyatekṣaṇaḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; ittham — dessa maneira; viriñca-stuta-karma-vīryaḥ — a Personalidade de Deus, cujas atividades e proezas sempre são louvadas pelo senhor Brahmā; prādurbabhūva — manifestou-Se; amṛta-bhūḥ — cujo aparecimento é sempre imperecível; adityām — do ventre de Aditi; catuḥ-bhujaḥ — tendo quatro braços; śaṅkha-gadā-abja-cakraḥ — decorado com búzio, maça, lótus e disco; piśaṅga-vāsāḥ — vestido com roupas amarelas; nalina­-āyata-īkṣaṇaḥ — tendo olhos que despontavam como as pétalas de um lótus.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Depois que o senhor Brahmā falou essas palavras em glorificação às atividades e proezas do Senhor Supremo, a Suprema Personalidade de Deus, que, diferentemente dos seres vivos ordinários, jamais Se sujeita à morte, apareceu no ventre de Aditi. Suas quatro mãos estavam decoradas com búzio, maça, lótus e disco. Trajava roupas amarelas, e Seus olhos pareciam as pétalas de um lótus a desabrochar.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso, a palavra amṛta-bhūḥ é significativa. Às vezes, ao aparecer, o Senhor nasce como uma criança comum, mas isso não significa que Ele está sujeito a nascimento, morte ou velhice. Todos devem ser muito inteligentes para compreender o aparecimento e as atividades das encarnações do Senhor Supremo. Confirma isso a Bhagavad-gītā (4.9): janma karma ca me divyam evaṁ yo vetti tattvataḥ. Deve-se tentar entender que o aparecimento e o desaparecimento do Senhor, e Suas atividades, são todos divyam, ou transcendentais. O Senhor nada tem a ver com as atividades materiais. Aquele que compreende o aparecimento, o desaparecimento e as atividades do Senhor liberta-se de imediato. Após abandonar seu corpo, ele nunca precisa aceitar novamente um corpo material, senão que é transferi­do ao mundo espiritual (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti so ’rjuna).

Texto

śyāmāvadāto jhaṣa-rāja-kuṇḍala-
tviṣollasac-chrī-vadanāmbujaḥ pumān
śrīvatsa-vakṣā balayāṅgadollasat-
kirīṭa-kāñcī-guṇa-cāru-nūpuraḥ

Sinônimos

śyāma-avadātaḥ — cujo corpo é escuro e livre de embriaguez; jhaṣa-­rāja-kuṇḍala — dos dois brincos, feitos em formato de tubarões; tviṣā — com o brilho; ullasat — ofuscante; śrī-vadana-ambujaḥ — tendo um belo rosto de lótus; pumān — a Pessoa Suprema; śrīvatsa-vakṣāḥ — com a marca de Śrīvatsa em Seu peito; balaya — braceletes; aṅgada — e pulseiras; ullasat — ofuscante; kirīṭa — elmo; kāñcī — cinto; guṇa — cordão sagrado; cāru — belos; nūpuraḥ — sinos de tornozelo.

Tradução

O corpo da Suprema Personalidade de Deus, de tez escura, estava livre de toda a embriaguez. Seu rosto de lótus, decorado com brincos em formato de tubarões, parecia muito belo, e, em Seu peito, havia a marca de Śrīvatsa. Ele usava pulseiras e braceletes, tinha um elmo em Sua cabeça, um cinto em Sua cintura, um cordão sa­grado cruzando o Seu peito, e sinos de tornozelo decorando Seus pés de lótus.

Texto

madhu-vrata-vrāta-vighuṣṭayā svayā
virājitaḥ śrī-vanamālayā hariḥ
prajāpater veśma-tamaḥ svarociṣā
vināśayan kaṇṭha-niviṣṭa-kaustubhaḥ

Sinônimos

madhu-vrata — de abelhas sempre ansiando por mel; vrāta — com um enxame; vighuṣṭayā — zumbindo; svayā — incomum; virājitaḥ — si­tuado; śrī — bela; vana-mālayā — com uma guirlanda de flores; hariḥ — o Senhor Supremo; prajāpateḥ — de Kaśyapa Muni, o Prajāpati; veśma-tamaḥ — a escuridão da casa; sva-rociṣā — com Sua própria re­fulgência; vināśayan — eliminando; kaṇṭha — no pescoço; niviṣṭa — usava; kaustubhaḥ — a joia Kaustubha.

Tradução

Uma guirlanda de flores extremamente bela decorava-Lhe o peito, e, devido ao fato de as flores serem intensamente fragrantes, um grande enxame de abelhas, produzindo seu zumbido habitual, inva­diu-as para fazer seu mel. Quando o Senhor apareceu, usando a joia Kaustubha em Seu pescoço, Sua refulgência eliminou a escuri­dão que havia no lar de Prajāpati Kaśyapa.

Texto

diśaḥ praseduḥ salilāśayās tadā
prajāḥ prahṛṣṭā ṛtavo guṇānvitāḥ
dyaur antarīkṣaṁ kṣitir agni-jihvā
gāvo dvijāḥ sañjahṛṣur nagāś ca

Sinônimos

diśaḥ — todas as direções; praseduḥ — tornaram-se felizes; salila — de água; āśayāḥ — os reservatórios; tadā — naquele momento; prajāḥ — todas as entidades vivas; prahṛṣṭāḥ — muito felizes; ṛtavaḥ — as estações; guṇa-anvitāḥ — repletas de suas respectivas qualidades; dyauḥ — o sistema planetário superior; antarīkṣam — espaço sideral; kṣitiḥ — a superfície da Terra; agni-jihvāḥ — os semideuses; gāvaḥ — as vacas; dvijāḥ — os brāhmaṇas; sañjahṛṣuḥ — todos ficaram felizes; nagāḥ ca — e as montanhas.

Tradução

Naquele momento, a felicidade surgiu em todas as direções, nos reservatórios de água, tais como os rios e oceanos, e no âmago de todos os corações. As várias estações apresentaram seus respectivos atributos, e todas as entidades vivas do sistema planetário superior, do espaço sideral e da superfície da Terra estavam jubilosas. Os se­mideuses, as vacas, os brāhmaṇas e as colinas e montanhas, todos sentiam imensa alegria.

Texto

śroṇāyāṁ śravaṇa-dvādaśyāṁ
muhūrte ’bhijiti prabhuḥ
sarve nakṣatra-tārādyāś
cakrus taj-janma dakṣiṇam

Sinônimos

śroṇāyām — quando a Lua estava situada na mansão lunar śrava­ṇa; śravaṇa-dvādaśyām — no décimo segundo dia lunar da quinzena da lua cheia do mês de bhādra, o famoso dia de Śravaṇa-dvādaśī; muhūrte — no momento auspicioso; abhijiti — na primeira porção da mansão lunar de śravaṇa, conhecida como Abhijit-nakṣatra e no Abhijit-muhūrta (ocorrendo ao meio-dia); prabhuḥ — o Senhor; sarve — todas; nakṣatra — as estrelas; tārā — planetas; ādyāḥ — come­çando com o Sol e continuando com os outros planetas; cakruḥ — fizeram; tat-janma — o nascimento do Senhor; dakṣiṇam — muito munificente.

Tradução

No dia de Śravaṇa-dvādaśī [o décimo segundo dia da quinzena da lua cheia do mês de bhādra], quando a Lua entrou na mansão lunar Śravaṇa, no momento auspicioso de Abhijit, o Senhor apareceu neste universo. Considerando muito auspicioso o aparecimento do Senhor, todas as estrelas e planetas, desde o Sol até Saturno, estavam prodigamente caridosos.

Comentário

SIGNIFICADO—O hábil astrólogo Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica a palavra nakṣatra-tārādyāḥ. A palavra nakṣatra significa “estrelas”; neste contexto, a palavra tāra refere-se aos planetas, e ādyāḥ quer dizer “o primeiro mencionado especificamente”. Entre os planetas, o primeiro é Sūrya, o Sol, e não a Lua. Portanto, de acordo com a versão védica, não se deve aceitar a proposta dos astrônomos modernos segundo a qual a Lua fica mais perto da Terra. A ordem cronológica na qual as pessoas em todo o mundo referem-se aos dias da semana – como no inglês Sunday, Monday, Tuesday, Wednesday, Thursday, Friday e Saturday – corresponde à ordem védica dos planetas e, portanto, corrobora a versão védica. Independentemente desse fato, quando o Senhor apareceu, os planetas e estrelas, de acordo com os cálculos astroló­gicos, estavam situados muito auspiciosamente para celebrar o nasci­mento do Senhor.

Texto

dvādaśyāṁ savitātiṣṭhan
madhyandina-gato nṛpa
vijayā-nāma sā proktā
yasyāṁ janma vidur hareḥ

Sinônimos

dvādaśyām — no décimo segundo dia da Lua; savitā — o Sol; atiṣṭhat — permanecia; madhyam-dina-gataḥ — no meridiano; nṛpa — ó rei; vijayā-nāma — pelo nome Vijayā; sā — aquele dia; proktā — é cha­mado; yasyām — no qual; janma — o aparecimento; viduḥ — eles sabem; hareḥ — do Senhor Hari.

Tradução

Ó rei, quando o Senhor apareceu – no dvādaśī, o décimo segundo dia da Lua –, o Sol estava no meridiano, como sabe todo estudioso erudito. Esse dvādaśī chama-se Vijayā.

Texto

śaṅkha-dundubhayo nedur
mṛdaṅga-paṇavānakāḥ
citra-vāditra-tūryāṇāṁ
nirghoṣas tumulo ’bhavat

Sinônimos

śaṅkha — búzios; dundubhayaḥ — timbales; neduḥ — vibravam; mṛdaṅga — tambores; paṇava-ānakāḥ — tambores chamados paṇavas e ānakas; citra — vários; vāditra — dessas vibrações de som musical; tūryāṇām — e de outros instrumentos; nirghoṣaḥ — o som alto; tumulaḥ — tumultuoso; abhavat — tornou-se.

Tradução

Búzios, timbales, tambores, paṇavas e ānakas vibravam em concerto. O som desses e de vários outros instrumentos era tumultuoso.

Texto

prītāś cāpsaraso ’nṛtyan
gandharva-pravarā jaguḥ
tuṣṭuvur munayo devā
manavaḥ pitaro ’gnayaḥ

Sinônimos

prītāḥ — estando muito satisfeitas; ca — também; apsarasaḥ — as dançarinas celestiais; anṛtyan — dançavam; gandharva-pravarāḥ — os melhores dos Gandharvas; jaguḥ — cantavam; tuṣṭuvuḥ — satisfize­ram o Senhor oferecendo orações; munayaḥ — os grandes sábios; devāḥ — os semideuses; manavaḥ — os Manus; pitaraḥ — os habitantes de Pitṛloka; agnayaḥ — os deuses do fogo.

Tradução

Estando muito satisfeitas, as dançarinas celestiais [Apsarās] dança­vam jubilosas, os melhores dos Gandharvas entoavam canções, e os grandes sábios, semideuses, Manus, Pitās e deuses do fogo ofere­ciam orações para satisfazer o Senhor.

Texto

siddha-vidyādhara-gaṇāḥ
sakimpuruṣa-kinnarāḥ
cāraṇā yakṣa-rakṣāṁsi
suparṇā bhujagottamāḥ
gāyanto ’tipraśaṁsanto
nṛtyanto vibudhānugāḥ
adityā āśrama-padaṁ
kusumaiḥ samavākiran

Sinônimos

siddha — os habitantes de Siddhaloka; vidyādhara-gaṇāḥ — os habitantes de Vidyādhara-loka; sa — com; kimpuruṣa — os habitantes de Kimpuruṣa-loka; kinnarāḥ — os habitantes de Kinnaraloka; cāra­ṇāḥ — os habitantes de Cāraṇaloka; yakṣa — os Yakṣas; rakṣāṁsi — os Rākṣasas; suparṇāḥ — os Suparṇas; bhujaga-uttamāḥ — as melhores habitantes do loka das serpentes; gāyantaḥ — glorificando o Senhor; ati-praśaṁsantaḥ — louvando o Senhor; nṛtyantaḥ — dançando; vi­budha-anugāḥ — os seguidores dos semideuses; adityāḥ — de Aditi; āśrama-padam — a residência; kusumaiḥ — com flores; samavākiran — cobriram.

Tradução

Os Siddhas, Vidyādharas, Kimpuruṣas, Kinnaras, Cāraṇas, Yakṣas, Rākṣasas, Suparṇas, as melhores das serpentes e os seguidores dos semideuses, todos derramaram flores sobre a residência de Aditi, cobrindo toda a casa, enquanto glorificavam e louvavam o Senhor e dançavam.

Texto

dṛṣṭvāditis taṁ nija-garbha-sambhavaṁ
paraṁ pumāṁsaṁ mudam āpa vismitā
gṛhīta-dehaṁ nija-yoga-māyayā
prajāpatiś cāha jayeti vismitaḥ

Sinônimos

dṛṣṭvā­ — vendo; aditiḥ — mãe Aditi; tam — a Ele (a Suprema Personalidade de Deus); nija-garbha-sambhavam — nascido de seu próprio ventre; param — o Supremo; pumāṁsam — a Personalidade de Deus; mudam — grande felicidade; āpa — obteve; vismitā — estando muito atônita; gṛhīta — aceitou; deham — corpo, ou forma transcendental; nija-yoga-māyayā — através de Sua própria potência espiritual; pra­jāpatiḥ — Kaśyapa Muni; ca — também; āha — disse; jaya — todas as glórias; iti — assim; vismitaḥ — estando admirado.

Tradução

Ao ver a Suprema Personalidade de Deus, que surgira de seu ventre, aceitar, através de Sua própria potência espiritual, um corpo transcendental, Aditi ficou maravilhada e muito feliz. Ao ver o filho, o Prajāpati Kaśyapa, com muita felicidade e admira­ção, exclamou: “Jaya! Jaya!”

Texto

yat tad vapur bhāti vibhūṣaṇāyudhair
avyakta-cid-vyaktam adhārayad dhariḥ
babhūva tenaiva sa vāmano vaṭuḥ
sampaśyator divya-gatir yathā naṭaḥ

Sinônimos

yat — o qual; tat — aquele; vapuḥ — corpo transcendental; bhāti — manifesta; vibhūṣaṇa — com adornos habituais; āyudhaiḥ — e com armas; avyakta — imanifesto; cit-vyaktam — espiritualmente manifesto; adhārayat — assumiu; hariḥ — o Senhor; babhūva — imediatamen­te Se tornou; tena — com isso; eva — decerto; saḥ — Ele (o Senhor); vāmanaḥ — anão; vaṭuḥ — um brāhmaṇa brahmacārī; sampaśyatoḥ — enquanto Seu pai e Sua mãe observavam; divya-gatiḥ — cujos movimentos são maravilhosos; yathā — como; naṭaḥ — um ator teatral.

Tradução

O Senhor apareceu em Sua forma original, com adornos e armas em Suas mãos. Muito embora essa forma perene não seja visível no mundo material, Ele apareceu nessa forma. Então, na presença de Seu pai e de Sua mãe, Ele, tal qual um ator de teatro, assumiu a forma de Vāmana, um brāhmaṇa anão, um brahmacārī.

Comentário

SIGNIFICADO—A palavra naṭaḥ é significativa. Um ator muda de roupa para re­presentar diferentes papéis, mas é sempre a mesma pessoa. Igual­mente, como se descreve na Brahma-saṁhitā (5.33,39), o Senhor assume muitos milhares e milhões de formas (advaitam acyutam anādim ananta-rūpam ādyaṁ purāṇa-puruṣam). Ele sempre está pre­sente em inumeráveis encarnações (rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan nānāvatāram akarod bhuvaneṣu kintu). Entretanto, embora Ele apareça como várias encarnações, elas não são diferentes uma das outras. Ele é a mesma pessoa, com a mesma potência, a mesma eternidade e a mesma existência espiritual, mas pode, simultanea­mente, assumir várias formas. Quando apareceu do ventre de Sua mãe, Vāmanadeva manifestou a forma de Nārāyaṇa, com quatro mãos equipadas com as devidas armas simbólicas e, então, logo Se trans­formou em um brahmacārī (vaṭu). Isso significa que o Seu corpo não é material. Não é inteligente aquele que pensa que o Senhor Su­premo assume um corpo material. Ele precisa aprender um pouco mais a respeito da posição do Senhor. Como se confirma na Bhagavad-gītā (4.9), janma karma ca me divyam evaṁ yo vetti tattvataḥ. Deve-se compreender que o aparecimento transcendental do Senhor ocorre em Seu corpo transcendental original (sac-cid-ānanda­-vigraha).

Texto

taṁ vaṭuṁ vāmanaṁ dṛṣṭvā
modamānā maharṣayaḥ
karmāṇi kārayām āsuḥ
puraskṛtya prajāpatim

Sinônimos

tam — a Ele; vaṭum — o brahmacārī; vāmanam — anão; dṛṣṭvā — vendo; modamānāḥ — um espírito feliz; mahā-ṛṣayaḥ — as grandes pessoas santas; karmāṇi — cerimônias ritualísticas; kārayām āsuḥ — realizaram; puraskṛtya — mantendo na frente; prajāpatim — Kaśyapa Muni, o Prajāpati.

Tradução

Ao verem o Senhor como o brahmacārī anão Vāmana, os grandes sábios decerto ficaram muito satisfeitos. Assim, reuniram-se com Kaśyapa Muni, o Prajāpati, e realizaram todas as cerimônias ritualísticas, tais como a cerimônia do natalício.

Comentário

SIGNIFICADO—De acordo com a civilização védica, quando uma criança nasce em família de brāhmaṇas, realiza-se primeiramente a cerimônia do natalício, conhecida como jāta-karma e, então, outras cerimô­nias também são realizadas gradualmente. Mas quando esse vāmana­-rūpa apareceu sob a forma de vaṭu, ou brahmacārī, a cerimônia de receber Seu cordão sagrado também foi imediatamente reali­zada.

Texto

tasyopanīyamānasya
sāvitrīṁ savitābravīt
bṛhaspatir brahma-sūtraṁ
mekhalāṁ kaśyapo ’dadāt

Sinônimos

tasya — do Senhor Vāmanadeva; upanīyamānasya — no momento em que Ele participou da cerimônia de receber Seu cordão sagrado; sāvitrīm — o mantra Gāyatrī; savitā — o deus do Sol; abravīt — cantou; bṛhaspatiḥ — Bṛhaspati, o guru dos semideuses; brahma-sūtram — o cordão sagrado; mekhalām — o cinto de palha; kaśyapaḥ — Kaśyapa Muni; adadāt — ofereceu.

Tradução

Na cerimônia em que Vāmanadeva recebeu o cordão sagrado, o deus do Sol pessoalmente pronunciou o mantra Gāyatrī, Bṛhaspati ofereceu o cordão sagrado, e Kaśyapa Muni ofertou um cinto de palha.

Texto

dadau kṛṣṇājinaṁ bhūmir
daṇḍaṁ somo vanaspatiḥ
kaupīnācchādanaṁ mātā
dyauś chatraṁ jagataḥ pateḥ

Sinônimos

dadau — deu, ofereceu; kṛṣṇa-ajinam — uma pele de veado; bhūmiḥ — mãe Terra; daṇḍam — um bastão de brahmacārī; somaḥ — o deus da Lua; vanaḥ-patiḥ — o rei da floresta; kaupīna — as vestes internas; ācchādanam — cobrindo o corpo; mātā — Sua mãe, Aditi; dyauḥ — o reino celestial; chatram — uma sombrinha; jagataḥ — de todo o universo; pateḥ — do mestre.

Tradução

A mãe Terra deu-Lhe uma pele de veado, e o semideus da Lua, que é o rei da floresta, deu-Lhe uma brahma-daṇḍa [o bastão de brahmacārī]. Sua mãe, Aditi, presenteou-O com tecidos que Ele de­veria usar como vestes internas, e a deidade que preside o reino ce­lestial ofereceu-Lhe uma sombrinha.

Texto

kamaṇḍaluṁ veda-garbhaḥ
kuśān saptarṣayo daduḥ
akṣa-mālāṁ mahārāja
sarasvaty avyayātmanaḥ

Sinônimos

kamaṇḍalum — um cântaro; veda-garbhaḥ — senhor Brahmā; kuśān — grama kuśa; sapta-ṛṣayaḥ — os sete sábios; daduḥ — ofereceram; akṣa-mālām — um cordão de contas Rudrākṣa; mahārāja — ó rei; sa­rasvatī — a deusa Sarasvatī; avyaya-ātmanaḥ — à Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Ó rei, o senhor Brahmā ofereceu um cântaro à inexaurível Suprema Personalidade de Deus, os sete sábios ofereceram-Lhe grama kuśa, e mãe Sarasvatī deu-Lhe um cordão de contas Rudrākṣa.

Texto

tasmā ity upanītāya
yakṣa-rāṭ pātrikām adāt
bhikṣāṁ bhagavatī sākṣād
umādād ambikā satī

Sinônimos

tasmai — a Ele (Senhor Vāmanadeva); iti — dessa maneira; upanītāya — que Se submetera à cerimônia de receber Seu cordão sagrado; yakṣa- — Kuvera, o tesoureiro dos céus e rei dos Yakṣas; pātri­kām — uma cuia de esmolas; adāt — entregou; bhikṣām — doações; bhagavatī — mãe Bhavānī, a esposa do senhor Śiva; sākṣāt — diretamente; umā — Umā; adāt — concedeu; ambikā — mãe do universo; satī — a casta.

Tradução

Quando Vāmanadeva recebeu o cordão sagrado, Kuvera, o rei dos Yakṣas, deu-Lhe uma cuia de esmolas, e mãe Bhagavatī, a esposa do senhor Śiva e a mãe mais casta de todo o universo, concedeu-Lhe Suas primeiras esmolas.

Texto

sa brahma-varcasenaivaṁ
sabhāṁ sambhāvito vaṭuḥ
brahmarṣi-gaṇa-sañjuṣṭām
atyarocata māriṣaḥ

Sinônimos

saḥ — Ele (Vāmanadeva); brahma-varcasena — pela Sua refulgência Brahman; evam — dessa maneira; sabhām — a assembleia; sambhāvitaḥ — tendo sido bem recebido por todos; vaṭuḥ — o brahmacārī; brahma-ṛṣi-gaṇa-sañjuṣṭām — repleto de grandes sábios brāhmaṇas; ati-arocata — superando, parecia belo; māriṣaḥ — o melhor dos brahmacārīs.

Tradução

Tendo sido tão bem recebido por todos, o Senhor Vāmanadeva, o melhor dos brahmacārīs, manifestou Sua refulgência Brahman. Assim, Sua beleza ofuscou toda aquela assembleia, que estava repleta de grandes brāhmaṇas santos.

Texto

samiddham āhitaṁ vahniṁ
kṛtvā parisamūhanam
paristīrya samabhyarcya
samidbhir ajuhod dvijaḥ

Sinônimos

samiddham — abrasador; āhitam — estando situado; vahnim — o fogo; kṛtvā — após fazer; parisamūhanam — apropriadamente; paris­tīrya — ultrapassando; samabhyarcya — após oferecer adoração; samid­bhiḥ — com oferendas sacrificatórias; ajuhot — completou o sacrifício de fogo; dvijaḥ — o melhor dos brāhmaṇas.

Tradução

Após organizar um fogo de sacrifício, o Senhor Vāmanadeva ofereceu adoração e realizou um sacrifício de fogo no campo sacrificatório.

Texto

śrutvāśvamedhair yajamānam ūrjitaṁ
baliṁ bhṛgūṇām upakalpitais tataḥ
jagāma tatrākhila-sāra-sambhṛto
bhāreṇa gāṁ sannamayan pade pade

Sinônimos

śrutvā — após ficar sabendo; aśvamedhaiḥ — pelos sacrifícios aśvamedha; yajamānam — o realizador; ūrjitam — muito glorioso; balim — Bali Mahārāja; bhṛgūṇām — sob a orientação dos brāhmaṇas nas­cidos na dinastia Bhṛgu; upakalpitaiḥ — realizados; tataḥ — daquele lugar; jagāma — foi; tatra — até lá; akhila-sāra-sambhṛtaḥ — a Suprema Personalidade de Deus, a essência de toda a criação; bhāreṇa — com o peso; gām — a Terra; sannamayan — afundando; pade pade — a cada passo.

Tradução

Quando o Senhor soube que Bali Mahārāja estava realizando sacrifícios aśvamedha sob a assistência de brāhmaṇas perten­centes à dinastia Bhṛgu, o Senhor Supremo, que é pleno sob todos os aspectos, dirigiu-Se até lá a fim de mostrar Sua misericórdia a Bali Mahārāja. Com Seu peso, Ele afundava a Terra a cada passo.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus é akhila-sāra-sambhṛta. Em outras palavras, Ele é o proprietário de tudo o que é essencial a este mundo material. Portanto, embora estivesse indo pedir algo a Bali Mahārāja, o Senhor é sempre completo e não precisa pedir nada a ninguém. Na verdade, Ele é tão poderoso que, em Sua completa opulência, afundava a superfície da Terra a cada passo que dava.

Texto

taṁ narmadāyās taṭa uttare baler
ya ṛtvijas te bhṛgukaccha-saṁjñake
pravartayanto bhṛgavaḥ kratūttamaṁ
vyacakṣatārād uditaṁ yathā ravim

Sinônimos

tam — a Ele (Vāmanadeva); narmadāyāḥ — do rio Narmadā; tae — na margem; uttare — norte; baleḥ — de Mahārāja Bali; ye — quem; ṛtvijaḥ — os sacerdotes ocupados em cerimônias ritualísticas; te — todos eles; bhṛgukaccha-saṁjñake — no campo chamado Bhṛgukaccha; pravartayantaḥ — realizando; bhṛgavaḥ — todos os descendentes de Bhṛgu; kratu-uttamam — o sacrifício mais importante, chamado aśvamedha; vyacakṣata — eles observaram; ārāt — ali perto; uditam — nascente; yathā — como; ravim — o Sol.

Tradução

Enquanto se ocupavam em realizar o sacrifício no campo conhecido como Bhṛgukaccha, situado na margem norte do rio Narmadā, os sacerdotes bramânicos, descendentes de Bhṛgu, viram Vāmanadeva, que Se assemelhava ao Sol nascendo nas proximidades.

Texto

te ṛtvijo yajamānaḥ sadasyā
hata-tviṣo vāmana-tejasā nṛpa
sūryaḥ kilāyāty uta vā vibhāvasuḥ
sanat-kumāro ’tha didṛkṣayā kratoḥ

Sinônimos

te — todos eles; ṛtvijaḥ — os sacerdotes; yajamānaḥ — bem como Bali Mahārāja, que os ocupara em realizar o yajña; sadasyāḥ — todos os membros da assembleia; hata-tviṣaḥ — diminuídos em sua reful­gência corpórea; vāmana-tejasā — pela refulgência brilhante do Senhor Vāmana; nṛpa — ó rei; sūryaḥ — o Sol; kila — se; āyāti — está vindo; uta — ou; vibhāvasuḥ — o deus do fogo; sanat-kumāraḥ — o Kumāra conhecido como Sanat-kumāra; atha — ou; didṛkṣayā — com o dese­jo de observar; kratoḥ — a cerimônia de sacrifício.

Tradução

Ó rei, devido à brilhante refulgência de Vāmanadeva, os sacerdo­tes, juntamente com Bali Mahārāja e todos os membros da assem­bleia, praticamente perderam todo o seu esplendor. Eles, então, começaram a perguntar uns aos outros se o próprio deus do Sol, Sanat-kumāra ou o deus do fogo haviam vindo pessoalmente ver a cerimônia de sacrifício.

Texto

itthaṁ saśiṣyeṣu bhṛguṣv anekadhā
vitarkyamāṇo bhagavān sa vāmanaḥ
chatraṁ sadaṇḍaṁ sajalaṁ kamaṇḍaluṁ
viveśa bibhrad dhayamedha-vāṭam

Sinônimos

ittham — dessa maneira; sa-śiṣyeṣu — com seus discípulos; bhṛguṣu — entre os Bhṛgus; anekadhā — de muitas maneiras; vitarkyamāṇaḥ — sendo comentado e debatido; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; saḥ — este; vāmanaḥ — Senhor Vāmana; chatram — sombri­nha; sa-daṇḍam — com o bastão; sa-jalam — cheio de água; kamaṇḍa­lum — cântaro; viveśa — entrou; bibhrat — levando na mão; hayame­dha — do sacrifício aśvamedha; vāṭam — na arena.

Tradução

Enquanto os sacerdotes da dinastia Bhṛgu e seus discípulos falavam e argumentavam de várias maneiras, a Suprema Personalidade de Deus, Vāmanadeva, portando em Suas mãos um bastão, uma sombrinha e um cântaro cheio de água, entrou na arena do sacrifício aśvamedha.

Texto

mauñjyā mekhalayā vītam
upavītājinottaram
jaṭilaṁ vāmanaṁ vipraṁ
māyā-māṇavakaṁ harim
praviṣṭaṁ vīkṣya bhṛgavaḥ
saśiṣyās te sahāgnibhiḥ
pratyagṛhṇan samutthāya
saṅkṣiptās tasya tejasā

Sinônimos

mauñjyā — feito de palha muñja; mekhalayā — com um cinto; vītam — cingido; upavīta — cordão sagrado; ajina-uttaram — usando uma roupa superior feita de pele de veado; jaṭilam — tendo madei­xas de cabelo anelado; vāmanam — Senhor Vāmana; vipram — um brāhmaṇa; māyā-māṇavakam — o filho ilusório de um ser humano; harim — a Suprema Personalidade de Deus; praviṣṭam — entrou; vīk­ṣya — vendo; bhṛgavaḥ — os sacerdotes descendentes de Bhṛgu; sa­-śiṣyāḥ — com seus discípulos; te — todos eles; saha-agnibhiḥ — com o sacrifício de fogo; pratyagṛhṇan — deram as devidas boas-vindas; sa­mutthāya — levantando-se; saṅkṣiptāḥ — ofuscados; tasya — Seu; tejasā — pelo brilho.

Tradução

Parecendo um menino brāhmaṇa usando um cinto de palha, um cordão sagrado, uma roupa superior feita de pele de veado e cabelos em mechas emaranhadas, o Senhor Vāmanadeva entrou na arena de sacri­fício. Sua refulgência brilhante ofuscou o brilho de todos os sacer­dotes e seus discípulos, os quais, então, levantaram-se de seus assentos e deram as devidas boas-vindas ao Senhor, oferecendo-Lhe reverências.

Texto

yajamānaḥ pramudito
darśanīyaṁ manoramam
rūpānurūpāvayavaṁ
tasmā āsanam āharat

Sinônimos

yajamānaḥ — Bali Mahārāja, que ocupara todos os sacerdotes em realizar o sacrifício; pramuditaḥ — ficando muito contente; darśa­nīyam — agradável de ver; manoramam — tão belas; rūpa — com beleza; anurūpa — igual à Sua beleza corpórea; avayavam — todas as diferen­tes partes do corpo; tasmai — a Ele; āsanam — um assento; āharat — ofereceu.

Tradução

Bali Mahārāja, contente ao ver o Senhor Vāmanadeva, cujos belos membros contribuíam igualmente para a beleza de todo o Seu corpo, sentiu muita satisfação em oferecer-Lhe um assento.

Texto

svāgatenābhinandyātha
pādau bhagavato baliḥ
avanijyārcayām āsa
mukta-saṅga-manoramam

Sinônimos

su-āgatena — com palavras de boas-vindas; abhinandya — acolhendo; atha — assim; pādau — os dois pés de lótus; bhagavataḥ — do Senhor; baliḥ — Bali Mahārāja; avanijya — lavando; arcayām āsa — adorou; mukta-saṅga-manoramam — a Suprema Personalidade de Deus, que é belo para as almas liberadas.

Tradução

Oferecendo essa digna recepção à Suprema Personalidade de Deus, que é sempre belo para as almas liberadas, Bali Mahārāja adorou-O, lavando Seus pés de lótus.

Texto

tat-pāda-śaucaṁ jana-kalmaṣāpahaṁ
sa dharma-vin mūrdhny adadhāt sumaṅgalam
yad deva-devo giriśaś candra-maulir
dadhāra mūrdhnā parayā ca bhaktyā

Sinônimos

tat-pāda-śaucam — a água que lavara os pés de lótus do Senhor; jana-kalmaṣa-apaham — que elimina todas as reações pecaminosas das pessoas em geral; saḥ — ele (Bali Mahārāja); dharma-vit — bas­tante inteirado dos princípios religiosos; mūrdhni — sobre a cabeça; adadhāt — carregava; su-maṅgalam — auspiciosíssimo; yat — o qual; deva-devaḥ — o melhor dos semideuses; giriśaḥ — senhor Śiva; candra­-mauliḥ — que carrega em sua testa o emblema da Lua; dadhāra — carregou; mūrdhnā — sobre a cabeça; parayā — suprema; ca — também; bhaktyā — com devoção.

Tradução

O senhor Śiva, o melhor dos semideuses, que carrega em sua testa o emblema da Lua, recebe sobre sua cabeça, com grande devoção, a água do Ganges que emana do dedão do pé de Viṣṇu. Inteirado dos princípios religiosos, Bali Mahārāja sabia disso. Consequente­mente, seguindo os passos do senhor Śiva, ele também colocou sobre sua cabeça a água que lavara os pés de lótus do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—O senhor Śiva é conhecido como Gaṅgā-dhara, ou aquele que carrega a água do Ganges sobre a sua cabeça. Sobre a testa do senhor Śiva, encontra-se o emblema da meia-lua, mas, para prestar completo respeito à Suprema Personalidade de Deus, o senhor Śiva colocou a água do Ganges acima desse emblema. Esse exemplo deve ser seguido por todos, ou pelo menos por todo devoto, pois o senhor Śiva é um dos mahājanas. De modo semelhante, Mahārāja Bali mais tarde também se tornou um mahājana. Um mahājana segue outro mahājana, e, seguindo o sistema paramparā das atividades dos mahāja­nas, pode-se avançar em consciência espiritual. A água do Ganges é santificada porque emana do dedo do pé do Senhor Viṣṇu. Bali Mahārāja lavou os pés de Vāmanadeva, e a água com a qual ele fez isso se tornou igual ao Ganges. Bali Mahārāja, que conhecia perfei­tamente bem todos os princípios religiosos, colocou então aquela água sobre a sua cabeça, seguindo os passos do senhor Śiva.

Texto

śrī-balir uvāca
svāgataṁ te namas tubhyaṁ
brahman kiṁ karavāma te
brahmarṣīṇāṁ tapaḥ sākṣān
manye tvārya vapur-dharam

Sinônimos

śrī-baliḥ uvāca — Bali Mahārāja disse; su-āgatam — todas as boas­-vindas; te — a Vós; namaḥ tubhyam — ofereço-Vos minhas respeitosas reverências; brahman — ó brāhmaṇa; kim — o que; karavāma — podemos fazer; te — por Vós; brahma-ṛṣīṇām — dos grandes sábios brāhmaṇas; tapaḥ — austeridades; sākṣāt — diretamente; manye — eu penso; tvā — Vós; ārya — ó pessoa nobre; vapuḥ-dharam — personificadas.

Tradução

Então, Bali Mahārāja disse ao Senhor Vāmanadeva: Ó brāhmaṇa, ofereço-Vos minhas calorosas boas-vindas e minhas respeitosas reve­rências. Por favor, dizei-nos o que podemos fazer por Vós. Pensamos em Vós como a austeridade personificada dos grandes sábios brāhmaṇas.

Texto

adya naḥ pitaras tṛptā
adya naḥ pāvitaṁ kulam
adya sviṣṭaḥ kratur ayaṁ
yad bhavān āgato gṛhān

Sinônimos

adya — hoje; naḥ — nossos; pitaraḥ — antepassados; tṛptāḥ — satisfeitos; adya — hoje; naḥ — nossa; pāvitam — purificada; kulam — toda a família; adya — hoje; su-iṣṭaḥ — está devidamente executado; kratuḥ — sacrifício; ayam — este; yat — porque; bhavān — Vossa Onipotência; āgataḥ — chegou; gṛhān — à nossa residência.

Tradução

Ó meu Senhor, devido ao fato de que fizestes a gentileza de vir até nosso lar, todos os meus antepassados estão satisfeitos, nossa fa­mília e toda a sua dinastia foram santificadas, e o sacrifício que estamos realizando agora está concluído graças à Vossa presença.

Texto

adyāgnayo me suhutā yathā-vidhi
dvijātmaja tvac-caraṇāvanejanaiḥ
hatāṁhaso vārbhir iyaṁ ca bhūr aho
tathā punītā tanubhiḥ padais tava

Sinônimos

adya — hoje; agnayaḥ — os fogos sacrificiais; me — executados por mim; su-hutāḥ — oblações feitas apropriadamente; yathā-vidhi — em termos dos preceitos do śāstra; dvija-ātmaja — ó filho de brāhmaṇa; tvat-caraṇa-avanejanaiḥ — que lavou Vossos pés de lótus; hata-aṁhasaḥ — que me livrei de todas as atividades pecaminosas; vārbhiḥ — pela água; iyam — esta; ca — também; bhūḥ — a superfície do globo; aho — oh!; tathā — bem como; punītā — santificada; tanu­bhiḥ — pequeninos; padaiḥ — pelo contato dos pés de lótus; tava — Vossos.

Tradução

Ó filho de um brāhmaṇa, hoje o fogo do sacrifício está aceso de acordo com o preceito dos śāstras, e, através da água que lavou Vossos pés de lótus, libertei-me de todas as reações pecaminosas da minha vida. Ó meu Senhor, pelo contato de Vossos pequeninos pés de lótus, toda a superfície do mundo se santificou.

Texto

yad yad vaṭo vāñchasi tat pratīccha me
tvām arthinaṁ vipra-sutānutarkaye
gāṁ kāñcanaṁ guṇavad dhāma mṛṣṭaṁ
tathānna-peyam uta vā vipra-kanyām
grāmān samṛddhāṁs turagān gajān vā
rathāṁs tathārhattama sampratīccha

Sinônimos

yat yat — tudo o que; vaṭo — ó brahmacārī; vāñchasi — desejardes; tat — isto; pratīccha — podeis levar; me — de mim; tvām — Vós; arthinam — desejando algo; vipra-suta — ó filho de brāhmaṇa; anutarkaye — considero; gām — uma vaca; kāñcanam — ouro; guṇavat dhāma — uma residência mobiliada; mṛṣṭam — saborosos; tathā — bem como; anna — grãos alimentícios; peyam — bebidas; uta — na verdade; — ou; vipra-kanyām — a filha de um brāhmaṇa; grāmān — vilas; samṛddhān — prósperas; turagān — cavalos; gajān — elefantes; — ou; rathān — quadrigas; tathā — bem como; arhat-tama — ó melhor entre os adoráveis; sampratīccha — podeis levar.

Tradução

Ó filho de brāhmaṇa, parece que viestes aqui para me pedir algo. Por­tanto, o que acaso desejardes podeis pedir-me. Ó melhor entre os adoráveis, posso dar-Vos vacas, ouro, uma casa mobiliada, alimentos e bebidas saborosos, a filha de um brāhmaṇa como Vossa espo­sa, vilas prósperas, cavalos, elefantes, quadrigas ou o que quer que desejardes.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do oitavo canto, décimo oitavo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Senhor Vāmanadeva, a Encarnação em Forma de Anão”.