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Capítulo Dezoito

Diti Faz o Voto de Matar o Rei Indra

Este capítulo narra a história de Diti, a esposa de Kaśyapa, e como ela fez o voto de ter um filho que matasse o rei Indra. Descreve, também, como Indra tentou frustrar o seu plano cortando em pedaços o filho que estava dentro do ventre dela.

Em relação a Tvaṣṭā e seus descendentes, descreve-se a dinastia dos Ādityas (filhos de Aditi) e de outros semideuses. Pṛśni, a esposa de Savitā, o quinto filho de Aditi, teve três filhas – Sāvitrī, Vyāhṛti e Trayī – e filhos muito insignes, chamados Agnihotra, Paśu, Soma, Cāturmāsya e os cinco Mahāyajñas. Siddhi, a esposa de Bhaga, teve três filhos, chamados Mahimā, Vibhu e Prabhu, e também teve uma filha, cujo nome era Āśī. Dhātā teve quatro esposas – Kuhū, Sinī­vālī, Rākā e Anumati –, que tiveram quatro filhos, chamados Sāyam, Darśa, Prātaḥ e Pūrṇamāsa, respectivamente. Kriyā, a es­posa de Vidhātā, deu à luz os cinco Purīṣyas, que são os represen­tantes das cinco classes de deuses do fogo. Bhṛgu, o filho nascido da mente de Brahmā, voltou a nascer de Carṣaṇī, a esposa de Varuṇa, e o grande sábio Vālmīki apareceu do sêmen de Varuṇa. Agastya e Vasiṣṭha foram dois filhos de Varuṇa e Mitra. Ao verem a beleza de Urvaśī, Mitra e Varuṇa ejacularam, guardando o sêmen em um pote de barro. Daquele pote, surgiram Agastya e Vasiṣṭha. Mitra teve uma esposa chamada Revatī, que deu à luz três filhos – Utsarga, Ariṣṭa e Pippala. Aditi teve doze filhos, dos quais Indra foi o décimo pri­meiro. A esposa de Indra se chamava Paulomī (Śacīdevī). Ela deu à luz três filhos – Jayanta, Ṛṣabha e Mīḍhuṣa. Através de Seus próprios poderes, a Suprema Personalidade de Deus apareceu como Vāmanadeva. De Sua esposa, cujo nome era Kīrti, apareceu um filho chamado Bṛhatśloka. O primeiro filho de Bṛhatśloka era conhecido como Saubhaga. Esta é uma descrição dos filhos de Aditi. No oitavo canto, é apresentada uma descrição de Āditya Urukrama, que é uma encarnação da Suprema Personalidade de Deus.

Neste capítulo, descrevem-se também os demônios nascidos de Diti. Na dinastia de Diti, apareceu o grande devoto santo Prahlāda, bem como Bali, neto de Prahlāda. Hiraṇyakaśipu e Hiraṇyākṣa foram os primeiros filhos de Diti. Hiraṇyakaśipu e sua esposa, cujo nome era Kayādhu, tiveram quatro filhos – Saṁhlāda, Anuhlāda, Hlāda e Prahlāda. Tiveram, também, uma filha, cujo nome era Siṁhikā. Em associação com o demônio Vipracit, Siṁhikā gerou um filho chamado Rāhu, cuja cabeça foi decepada pela Suprema Personalidade de Deus. Kṛti, a esposa de Saṁhlāda, gerou um filho chamado Pañcajana. A esposa de Hlāda, cujo nome era Dhamani, deu à luz dois filhos – Vātāpi e Ilvala. Ilvala transformou Vātāpi em um carneiro e o deu a Agastya, para lhe servir de alimento. No ventre de sua esposa Sūryā, Anuhlāda gerou dois filhos, chamados Bāṣkala e Mahiṣa. O filho de Prahlāda era conhecido como Virocana, e seu neto era conhecido como Bali Mahārāja, que teve cem filhos, dos quais Bāṇa era o mais velho.

Após descrever a dinastia dos Ādityas e dos outros semideuses, Śukadeva Gosvāmī passa a descrever os filhos de Diti conhecidos como Maruts e como eles foram elevados à posição de semideuses. Com o simples propósito de ajudar Indra, o Senhor Viṣṇu matara Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu. Devido a isso, Diti ficou com muita inveja e desejou ardentemente ter um filho que pudesse matar Indra. Com seu serviço, ela encantou Kaśyapa Muni, a quem pediu um filho superior, que fosse capaz de concretizar esse seu desejo. Prevalecendo o preceito védico, segundo o qual vidvāṁsam api karṣati, Kaśyapa Muni se deixou seduzir por sua bela esposa e prometeu satisfazer qualquer pedido dela. Quando, entretanto, ela pediu um filho que fosse capaz de matar Indra, ele se arrependeu e aconselhou sua esposa Diti a seguir as cerimônias ritualísticas vaiṣṇavas para se purificar. Quando Diti, seguindo as instruções de Kaśyapa, passou a se ocupar em serviço devocional, Indra descobriu suas intenções e começou a observar todas as suas ativi­dades. Certo dia, Indra teve a oportunidade de ver que ela se desviou do serviço devocional. Portanto, entrou em seu ventre e lhe cortou o filho, que ficou reduzido a quarenta e nove frag­mentos. Dessa maneira, os quarenta e nove tipos de ar, conhecidos como Maruts, apareceram, mas, porque Diti havia executado as cerimônias ritualísticas vaiṣṇavas, todos os filhos se tornaram vaiṣṇavas.

Texto

śrī-śuka uvāca
pṛśnis tu patnī savituḥ
sāvitrīṁ vyāhṛtiṁ trayīm
agnihotraṁ paśuṁ somaṁ
cāturmāsyaṁ mahā-makhān

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; pṛśniḥ — Pṛśni; tu — então; patnī — esposa; savituḥ — de Savitā; sāvitrīm — Sāvitrī; vyāhṛtim — Vyāhṛti; trayīm — Trayī; agnihotram — Agnihotra; paśum — Paśu; somam — Soma; cāturmāsyam — Cāturmāsya; mahā-makhān — os cinco Mahāyajñas.

Tradução

Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Pṛśni, que era a esposa de Savitā, o quinto dos doze filhos de Aditi, deu à luz três filhas – Sāvitrī, Vyāhṛti e Trayī – e os filhos chamados Agnihotra, Paśu, Soma, Cāturmāsya e os cinco Mahāyajñas.

Texto

siddhir bhagasya bhāryāṅga
mahimānaṁ vibhuṁ prabhum
āśiṣaṁ ca varārohāṁ
kanyāṁ prāsūta suvratām

Sinônimos

siddhiḥ — Siddhi; bhagasya — de Bhaga; bhāryā — a esposa; aṅga — meu querido rei; mahimānam — Mahimā; vibhum — Vibhu; prabhum — Prabhu; āśiṣam — Āśī; ca — e; varārohām — muito bela; ka­nyām — filha; prāsūta — gerou; su-vratām — virtuosa.

Tradução

Ó rei, Siddhi, que era a esposa de Bhaga, o sexto filho de Aditi, gerou três filhos, chamados Mahimā, Vibhu e Prabhu, e uma filha extremamente bela, cujo nome era Āśī.

Texto

dhātuḥ kuhūḥ sinīvālī
rākā cānumatis tathā
sāyaṁ darśam atha prātaḥ
pūrṇamāsam anukramāt
agnīn purīṣyān ādhatta
kriyāyāṁ samanantaraḥ
carṣaṇī varuṇasyāsīd
yasyāṁ jāto bhṛguḥ punaḥ

Sinônimos

dhātuḥ — de Dhātā; kuhūḥ — Kuhū; sinīvālī — Sinīvālī; rākā — Rākā; ca — e; anumatiḥ — Anumati; tathā — também; sāyam — Sāyam; darśam — Darśa; atha — também; prātaḥ — Prātaḥ; pūrṇamāsam — Pūrṇamāsa; anukramāt — respectivamente; agnīn — deuses do fogo; purīṣyān — chamados de Purīṣyas; ādhatta — gerou; kriyāyām — em Kriyā; samanantaraḥ — o filho seguinte, Vidhātā; carṣaṇī — Carṣaṇī; varuṇasya — de Varuṇa; āsīt — foi; yasyām — em quem; jātaḥ — nasceu; bhṛguḥ — Bhṛgu; punaḥ — novamente.

Tradução

Dhātā, o sétimo filho de Aditi, teve quatro esposas, chamadas Kuhū, Sinīvālī, Rākā e Anumati. Essas esposas geraram quatro filhos, chamados Sāyam, Darśa, Prātaḥ e Pūrṇamāsa, respectivamente. A esposa de Vidhātā, o oitavo filho de Aditi, chamava-se Kriyā. Vidhātā fecundou Kriyā, em consequência do que ela gerou os cinco deuses do fogo, chamados Purīṣyas. A esposa de Varuṇa, o nono filho de Aditi, chamava-se Carṣaṇī. Bhṛgu, o filho de Brahmā, voltou a nascer no ventre dela.

Texto

vālmīkiś ca mahā-yogī
valmīkād abhavat kila
agastyaś ca vasiṣṭhaś ca
mitrā-varuṇayor ṛṣī

Sinônimos

vālmīkiḥ — Vālmīki; ca — e; mahā-yogī — o grande místico; val­mīkāt — de um formigueiro; abhavat — nasceu; kila — na verdade; agastyaḥ — Agastya; ca — e; vasiṣṭhaḥ — Vasiṣṭha; ca — também; mitrā­-varuṇayoḥ — de Mitra e Varuṇa; ṛṣī — os dois sábios.

Tradução

Através do sêmen de Varuṇa, o grande místico Vālmīki nasceu de um formigueiro. Bhṛgu e Vālmīki eram filhos exclusivamente de Varuṇa, ao passo que Agastya e Vasiṣṭha Ṛṣis eram filhos comuns a Varuṇa e Mitra, o décimo filho de Aditi.

Texto

retaḥ siṣicatuḥ kumbhe
urvaśyāḥ sannidhau drutam
revatyāṁ mitra utsargam
ariṣṭaṁ pippalaṁ vyadhāt

Sinônimos

retaḥ — sêmen; siṣicatuḥ — expelido; kumbhe — em um pote de barro; urvaśyāḥ — de Urvaśī; sannidhau — na presença; drutam — eliminado; revatyām — em Revatī; mitraḥ — Mitra; utsargam — Utsarga; ariṣṭam — Ariṣṭa; pippalam — Pippala; vyadhāt — gerou.

Tradução

Ao verem Urvaśī, que era uma moça da sociedade celestial, tanto Mitra quanto Varuṇa ejacularam, preservando o sêmen em um pote de barro. Os dois filhos Agastya e Vasiṣṭha surgiram mais tarde da­quele pote e, portanto, são os filhos comuns a Mitra e Varuṇa. Mitra gerou três filhos no ventre de sua esposa, cujo nome era Revatī. Seus nomes eram Utsarga, Ariṣṭa e Pippala.

Comentário

SIGNIFICADO—Mediante a manipulação de sêmen, a ciência moderna está tentando produzir entidades vivas em tubos de ensaio. Entretanto, mesmo em tempos muito remotos, foi possível manter o sêmen em um pote para que se desenvolvesse em duas crianças.

Texto

paulomyām indra ādhatta
trīn putrān iti naḥ śrutam
jayantam ṛṣabhaṁ tāta
tṛtīyaṁ mīḍhuṣaṁ prabhuḥ

Sinônimos

paulomyām — em Paulomī (Śacīdevī); indraḥ — Indra; ādhatta — gerou; trīn — três; putrān — filhos; iti — assim; naḥ — por nós; śrutam — ouvido; jayantam — Jayanta; ṛṣabham — Ṛṣabha; tāta — meu querido rei; tṛtīyam — terceiro; mīḍhuṣam — Mīḍhuṣa; prabhuḥ — o senhor.

Tradução

Ó rei Parīkṣit, Indra, o rei dos planetas celestiais e o décimo primeiro filho de Aditi, fecundou sua esposa Paulomī, e ela gerou três filhos, chamados Jayanta, Ṛṣabha e Mīḍhuṣa. Assim nos foi relatado.

Texto

urukramasya devasya
māyā-vāmana-rūpiṇaḥ
kīrtau patnyāṁ bṛhacchlokas
tasyāsan saubhagādayaḥ

Sinônimos

urukramasya — de Urukrama; devasya — o Senhor; māyā — através de Sua potência interna; vāmana-rūpiṇaḥ — tendo a forma de anão; kīrtau — em Kīrti; patnyām — Sua esposa; bṛhacchlokaḥ — Bṛhatśloka; tasya — dele; āsan — eram; saubhaga-ādayaḥ — filhos começando com Saubhaga.

Tradução

Através de Sua própria potência, a Suprema Personalidade de Deus, que tem potências multifárias, apareceu sob a forma de um anão, Urukrama, o décimo segundo filho de Aditi. No ventre de Sua esposa, cujo nome era Kīrti, Ele gerou um filho, chamado Bṛhatśloka, que teve muitos filhos, encabeçados por Saubhaga.

Comentário

SIGNIFICADO—Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (4.6):

ajo ’pi sann avyayātmā
bhūtānām īśvaro ’pi san
prakṛtiṁ svām adhiṣṭhāya
sambhavāmy ātma-māyayā

“Embora Eu seja não nascido e Meu corpo transcendental jamais se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todas as entidades vivas, mesmo assim, em cada milênio Eu apareço em Minha forma transcendental original.” Ao encarnar, a Suprema Personalidade de Deus não precisa recorrer à energia externa, pois, através de Sua própria potência, Ele aparece tal qual Ele é. A potência espiritual também se chama māyā. Afirma-se que ato māyāmayaṁ viṣṇuṁ pravadanti manīṣiṇaḥ: o corpo aceito pela Suprema Personalidade de Deus se chama māyāmaya. Isso não significa que Ele é formado de energia externa; essa māyā se refere à Sua potência interna.

Texto

tat-karma-guṇa-vīryāṇi
kāśyapasya mahātmanaḥ
paścād vakṣyāmahe ’dityāṁ
yathaivāvatatāra ha

Sinônimos

tat — Suas; karma — atividades; guṇa — qualidades; vīryāṇi — e poder; kāśyapasya — do filho de Kaśyapa; mahā-ātmanaḥ — a grande alma; paścāt — mais tarde; vakṣyāmahe — descreverei; adityām — em Aditi; yathā — como; eva — decerto; avatatāra — apareceu; ha — na verdade.

Tradução

Mais tarde [no oitavo canto do Śrīmad-Bhāgavatam], descreverei como Urukrama, o Senhor Vāmanadeva, apareceu como o filho do grande sábio Kaśyapa e como Ele cobriu os três mundos com três passos. Descreverei as extraordinárias atividades por Ele exe­cutadas, Suas qualidades, Seu poder e como Ele nasceu do ventre de Aditi.

Texto

atha kaśyapa-dāyādān
daiteyān kīrtayāmi te
yatra bhāgavataḥ śrīmān
prahrādo balir eva ca

Sinônimos

atha — agora; kaśyapa-dāyādān — os filhos de Kaśyapa; daiteyān — nascidos de Diti; kīrtayāmi — descreverei; te — para ti; yatra — onde; bhāgavataḥ — o grande devoto; śrīmān — glorioso; prahrādaḥ — Prahlāda; baliḥ — Bali; eva — decerto; ca — também.

Tradução

Agora, ouve enquanto descrevo os filhos de Diti, que foram gerados por Kaśyapa, mas que se tornaram demônios. Foi nessa família demoníaca que apareceu o grande devoto Prahlāda Mahārāja, bem como Bali Mahārāja. Porque procedem do ventre de Diti, os demônios são tecnicamente conhecidos como Daityas.

Texto

diter dvāv eva dāyādau
daitya-dānava-vanditau
hiraṇyakaśipur nāma
hiraṇyākṣaś ca kīrtitau

Sinônimos

diteḥ — de Diti; dvau — dois; eva — decerto; dāyādau — filhos; daitya-­dānava — pelos Daityas e pelos Dānavas; vanditau — adorados; hiraṇyakaśipuḥ — Hiraṇyakaśipu; nāma — chamado; hiraṇyākṣaḥ — Hiraṇyākṣa; ca — também; kīrtitau — conhecidos.

Tradução

Em primeiro lugar, os dois filhos chamados Hiraṇyakaśipu e Hiraṇyākṣa nasceram do ventre de Diti. Muito poderosos, ambos eram adorados pelos Daityas e pelos Dānavas.

Texto

hiraṇyakaśipor bhāryā
kayādhur nāma dānavī
jambhasya tanayā sā tu
suṣuve caturaḥ sutān
saṁhrādaṁ prāg anuhrādaṁ
hrādaṁ prahrādam eva ca
tat-svasā siṁhikā nāma
rāhuṁ vipracito ’grahīt

Sinônimos

hiraṇyakaśipoḥ — de Hiraṇyakaśipu; bhāryā — a esposa; kayādhuḥ — Kayādhu; nāma — chamada; dānavī — descendente de Danu; jambhasya — de Jambha; tanayā — filha; — ela; tu — na verdade; suṣuve — deu à luz; caturaḥ — quatro; sutān — filhos; saṁhrādam — Saṁhlāda; prāk — primeiro; anuhrādam — Anuhlāda; hrādam — Hlāda; prahrādam — Prahlāda; eva — também; ca — e; tat-svasā — sua irmã; siṁhi­kā — Siṁhikā; nāma — chamada; rāhum — Rāhu; vipracitaḥ — de Vi­pracit; agrahīt — recebeu.

Tradução

A esposa de Hiraṇyakaśipu era conhecida como Kayādhu. Ela era filha de Jambha e descendente de Danu. Ela deu à luz quatro filhos consecutivos, conhecidos como Saṁhlāda, Anuhlāda, Hlāda e Prah­lāda. A irmã desses quatro era conhecida como Siṁhikā. Ela se casou­ com o demônio chamado Vipracit e deu à luz outro demônio, chamado Rāhu.

Texto

śiro ’harad yasya hariś
cakreṇa pibato ’mṛtam
saṁhrādasya kṛtir bhāryā-
sūta pañcajanaṁ tataḥ

Sinônimos

śiraḥ — a cabeça; aharat — decepou; yasya — de quem; hariḥ — Hari; cakreṇa — com o disco; pibataḥ — bebendo; amṛtam — néctar; saṁhrādasya — de Saṁhlāda; kṛtiḥ — Kṛti; bhāryā — a esposa; asūta — deu à luz; pañcajanam — Pañcajana; tataḥ — por intermédio dele.

Tradução

Enquanto Rāhu, disfarçado, bebia néctar entre os semi­deuses, a Suprema Personalidade de Deus lhe decepou a cabeça. A esposa de Saṁhlada se chamava Kṛti. Através de sua união com Saṁhlāda, Kṛti deu à luz um filho chamado Pañcajana.

Texto

hrādasya dhamanir bhāryā-
sūta vātāpim ilvalam
yo ’gastyāya tv atithaye
pece vātāpim ilvalaḥ

Sinônimos

hrādasya — de Hlāda; dhamaniḥ — Dhamani; bhāryā — a esposa; asūta — deu à luz; vātāpim — Vātāpi; ilvalam — Ilvala; yaḥ — aquele que; agastyāya — para Agastya; tu — porém; atithaye — seu convida­do; pece — cozinhou; vātāpim — Vātāpi; ilvalaḥ — Ilvala.

Tradução

A esposa de Hlāda se chamava Dhamani. Ela deu à luz dois filhos, chamados Vātāpi e Ilvala. Quando Agastya Muni se tornou hóspede de Ilvala, este lhe ofereceu um banquete no qual cozinhou Vātāpi, que estava sob a forma de um carneiro.

Texto

anuhrādasya sūryāyāṁ
bāṣkalo mahiṣas tathā
virocanas tu prāhrādir
devyāṁ tasyābhavad baliḥ

Sinônimos

anuhrādasya — de Anuhlāda; sūryāyām — através de Sūryā; bāṣkalaḥ — Bāṣkala; mahiṣaḥ — Mahiṣa; tathā — também; virocanaḥ — Virocana; tu — na verdade; prāhrādiḥ — o filho de Prahlāda; devyām — através de sua esposa; tasya — dele; abhavat — foi; baliḥ — Bali.

Tradução

A esposa de Anuhlāda se chamava Sūryā. Ela deu à luz dois filhos, chamados Bāṣkala e Mahiṣa. Prahlāda teve um filho, Virocana, cuja esposa deu à luz Bali Mahārāja.

Texto

bāṇa-jyeṣṭhaṁ putra-śatam
aśanāyāṁ tato ’bhavat
tasyānubhāvaṁ suślokyaṁ
paścād evābhidhāsyate

Sinônimos

bāṇa-jyeṣṭham — tendo Bāṇa como o mais velho; putra-śatam — cem filhos; aśanāyām — através de Aśanā; tataḥ — dele; abhavat — havia; tasya — seu; anubhāvam — caráter; su-ślokyam — louvável; paścāt — mais tarde; eva — com certeza; abhidhāsyate — será descrito.

Tradução

Depois disso, Bali Mahārāja gerou cem filhos no ventre de Aśanā, dos quais o rei Bāṇa era o mais velho. As atividades de Bali Mahārāja, que são muito louváveis, serão descritas mais tarde [no oitavo canto].

Texto

bāṇa ārādhya giriśaṁ
lebhe tad-gaṇa-mukhyatām
yat-pārśve bhagavān āste
hy adyāpi pura-pālakaḥ

Sinônimos

bāṇaḥ — Bāṇa; ārādhya — tendo adorado; giriśam — o senhor Śiva; lebhe — obteve; tat — dele (senhor Śiva); gaṇa-mukhyatām — a condição de ser um dos principais associados; yat-pārśve — a cujo lado; bhagavān — o senhor Śiva; āste — permanece; hi — devido a isso; adya — agora; api — mesmo; pura-pālakaḥ — o protetor da capital.

Tradução

Uma vez que o rei Baṇa era um grande adorador do senhor Śiva, ele se tornou um dos mais célebres associados do senhor Śiva. Mesmo atualmente, o senhor Śiva protege a capital do rei Bāṇa e sempre permanece a seu lado.

Texto

marutaś ca diteḥ putrāś
catvāriṁśan navādhikāḥ
ta āsann aprajāḥ sarve
nītā indreṇa sātmatām

Sinônimos

marutaḥ — os Maruts; ca — e; diteḥ — de Diti; putrāḥ — filhos; catvā­riṁśat — quarenta; nava-adhikāḥ — mais nove; te — eles; āsan — eram; aprajāḥ — desprovidos de filhos; sarve — todos; nītāḥ — foram trazi­dos; indreṇa — pelo rei Indra; sa-ātmatām — à posição de semideuses.

Tradução

Os quarenta e nove semideuses Maruts também nasceram do ventre de Diti. Nenhum deles teve filhos. Embora tivessem nascido de Diti, o rei Indra lhes deu a posição de semideuses.

Comentário

SIGNIFICADO—Aparentemente, quando o seu caráter ateísta é reformado, até mesmo os demônios podem ser elevados às posições de semideuses. Existem duas classes de homens em todo o universo. Aqueles que são devotos do Senhor Viṣṇu são chamados semideuses, e aqueles que são exatamente o oposto são chamados demônios. Mesmo os demônios podem transformar-se em semideuses, como prova a afir­mação contida neste verso.

Texto

śrī-rājovāca
kathaṁ ta āsuraṁ bhāvam
apohyautpattikaṁ guro
indreṇa prāpitāḥ sātmyaṁ
kiṁ tat sādhu kṛtaṁ hi taiḥ

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — o rei Parīkṣit disse; katham — por que; te — eles; āsuram — demoníaca; bhāvam — mentalidade; apohya — abandonando; autpattikam — devido ao nascimento; guro — meu querido senhor; indreṇa — por Indra; prāpitāḥ — foram convertidos; sa-ātmyam — em semideuses; kim — se; tat — portanto; sādhu — atividades piedosas; kṛtam — executadas; hi — na verdade; taiḥ — por eles.

Tradução

O rei Parīkṣit perguntou: Meu querido senhor, devido ao seu nas­cimento, os quarenta e nove Maruts deviam estar obcecados por uma mentalidade demoníaca. Por que Indra, o rei dos céus, converteu-os em semideuses? Eles realizaram algum ritual ou alguma atividade piedosa?

Texto

ime śraddadhate brahmann
ṛṣayo hi mayā saha
parijñānāya bhagavaṁs
tan no vyākhyātum arhasi

Sinônimos

ime — esses; śraddadhate — estão ansiosos; brahman — ó brāhmaṇa; ṛṣayaḥ — sábios; hi — na verdade; mayā saha — comigo; parijñānāya — por conhecer; bhagavan — ó grande alma; tat — portanto; naḥ — para nós; vyākhyātum arhasi — por favor, explica.

Tradução

Meu querido brāhmaṇa, eu e todos os sábios aqui presentes comigo estamos ansiosos por saber acerca disso. Portanto, ó grande alma, faze a bondade de nos explicar a razão.

Texto

śrī-sūta uvāca
tad viṣṇurātasya sa bādarāyaṇir
vaco niśamyādṛtam alpam arthavat
sabhājayan san nibhṛtena cetasā
jagāda satrāyaṇa sarva-darśanaḥ

Sinônimos

śrī-sūtaḥ uvāca — Śrī Sūta Gosvāmī disse; tat — aquelas; viṣṇurātasya — de Mahārāja Parīkṣit; saḥ — ele; bādarāyaṇiḥ — Śukadeva Gosvāmī; vacaḥ — palavras; niśamya — ouvindo; ādṛtam — respeitosas; alpam — sucintas; artha-vat — significativas; sabhājayan san — louvando; nibhṛtena cetasā — com muito prazer; jagāda — respondeu; satrāyaṇa — ó Śaunaka; sarva-darśanaḥ — que é versado em tudo.

Tradução

Śrī Sūta Gosvāmī disse: Ó grande sábio Śaunaka, após ouvir Mahārāja Parīkṣit falar respeitosa e concisamente sobre tópicos essenciais, Śukadeva Gosvāmī, que era muito versado em tudo, louvou sua atitude e respondeu.

Comentário

SIGNIFICADO—A pergunta de Mahārāja Parīkṣit foi muito apreciada por Śukadeva Gosvāmī porque, embora composta de um pequeno número de palavras, continha indagações significativas sobre como os filhos de Diti, apesar de terem nascido como demônios, tornaram-se semi­deuses. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura enfatiza que, embora Diti fosse muito invejosa, seu coração se purificou devido à sua atitude devocional. Outro tópico significativo é que, mesmo sendo um sábio erudito que tinha muito avanço em consciência espiritual, Kaśyapa Muni se deixou seduzir por sua belíssima esposa. Com poucas palavras, formularam-se todas essas perguntas, e, portanto, Śukadeva Gosvāmī deu muito valor às indagações feitas por Mahā­rāja Parīkṣit.

Texto

śrī-śuka uvāca
hata-putrā ditiḥ śakra-
pārṣṇi-grāheṇa viṣṇunā
manyunā śoka-dīptena
jvalantī paryacintayat

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; hata-putrā — cujos filhos foram mortos; ditiḥ — Diti; śakra pārṣṇi-grāheṇa — que estava ajudando o senhor Indra; viṣṇunā — pelo Senhor Viṣṇu; manyunā — com ira; śoka-dīptena — inflamada pela lamentação; jvalantī — ardente; paryacintayat — pensou.

Tradução

Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Somente para ajudar Indra, o Senhor Viṣṇu matou os dois irmãos Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu. Devido à morte deles, Diti, sua mãe, tomada de lamentação e ira, ponderou o seguinte.

Texto

kadā nu bhrātṛ-hantāram
indriyārāmam ulbaṇam
aklinna-hṛdayaṁ pāpaṁ
ghātayitvā śaye sukham

Sinônimos

kadā — quando; nu — na verdade; bhrātṛ-hantāram — aquele que matou os irmãos; indriya-ārāmam — muito aficionado ao gozo dos sentidos; ulbaṇam — cruel; aklinna-hṛdayam — desalmado; pāpam — pecaminoso; ghātayitvā — tendo causado a morte; śaye — repousarei; sukham — com felicidade.

Tradução

O senhor Indra, que gosta muito do gozo dos sentidos, matou por intermédio do Senhor Viṣṇu os dois irmãos Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu. Portanto, Indra é cruel, pecaminoso e desalmado. Quando será que eu, após matar Indra, poderei repousar com minha mente apaziguada?

Texto

kṛmi-viḍ-bhasma-saṁjñāsīd
yasyeśābhihitasya ca
bhūta-dhruk tat-kṛte svārthaṁ
kiṁ veda nirayo yataḥ

Sinônimos

kṛmi — vermes; viṭ — excremento; bhasma — cinzas; saṁjñā — nome; āsīt — torna-se; yasya — do qual (corpo); īśa-abhihitasya — embora designado como rei; ca — também; bhūta-dhruk — aquele que maltrata os outros; tat-kṛte — em atenção a isso; sva-artham — seu interesse pessoal; kim veda — será que ele conhece; nirayaḥ — punição no inferno; yataḥ — do qual.

Tradução

Quando mortos, os corpos de todos os governantes conhecidos como reis e grandes líderes se transformarão em vermes, excremento ou cinzas. Se, por inveja, alguém que quer proteger tal corpo, mata outrem, será que ele conhece de fato o verdadeiro interesse da vida? Na certa não conhece, pois quem inveja outras entidades com certe­za rumará  para o inferno.

Comentário

SIGNIFICADO—O corpo material, mesmo que possuído por um grande rei, em última análise se transforma em excremento, vermes ou cinzas. Quando alguém é demasiadamente apegado ao conceito de vida cor­poral, decerto não é muito inteligente.

Texto

āśāsānasya tasyedaṁ
dhruvam unnaddha-cetasaḥ
mada-śoṣaka indrasya
bhūyād yena suto hi me

Sinônimos

āśāsānasya — pensando; tasya — dele; idam — este (corpo); dhruvam — eterno; unnaddha-cetasaḥ — cuja mente é descontrolada; mada­-śoṣakaḥ — que possa remover a loucura; indrasya — de Indra; bhūyāt — que haja; yena — pelo qual; sutaḥ — um filho; hi — decerto; me — meu.

Tradução

Diti pensou: Indra considera seu corpo como eterno e, dessa maneira, age como se desconhecesse limites. Portanto, é meu desejo ter um filho que possa remover a loucura que acometeu Indra. Tomarei alguma atitude que me ajude a conseguir isso.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo os śāstras, quem está no conceito de vida corpórea é comparado a animais, tais como vacas e asnos. Diti queria punir Indra, que se tornara igual a um animal inferior.

Texto

iti bhāvena sā bhartur
ācacārāsakṛt priyam
śuśrūṣayānurāgeṇa
praśrayeṇa damena ca
bhaktyā paramayā rājan
manojñair valgu-bhāṣitaiḥ
mano jagrāha bhāva-jñā
sasmitāpāṅga-vīkṣaṇaiḥ

Sinônimos

iti — assim; bhāvena — com a intenção; — ela; bhartuḥ — do espo­so; ācacāra — realizava; asakṛt — constantemente; priyam — atividades agradáveis; śuśrūṣayā — com serviço; anurāgeṇa — com amor; praśrayeṇa — com humildade; damena — com autocontrole; ca — também; bhaktyā — com devoção; paramayā — grande; rājan — ó rei; mano­jñaiḥ — encantando; valgu-bhāṣitaiḥ — com palavras doces; manaḥ — sua mente; jagrāha — colocou sob seu controle; bhāva-jñā — conhe­cendo sua natureza; sa-smita — com sorrisos; apāṅga-vīkṣaṇaiḥ — com olhares.

Tradução

Com isso em mente [desejando ter um filho que fosse capaz de matar Indra], Diti passou a agir constantemente de modo a satisfazer Kaśyapa com seu comportamento agradável. Ó rei, Diti sempre cumpria as ordens de Kaśyapa muito fielmente, tal qual ele desejava. Com serviço, amor, humildade e controle, com palavras faladas muito docemente para satisfazer seu esposo, e com seus sorrisos e olhares, Diti lhe atraiu a mente, colocando-a sob seu controle.

Comentário

SIGNIFICADO—Ao desejar tornar-se querida por seu esposo e fazê-lo muito fiel, a mulher deve esforçar-se por satisfazê-lo em todos os sentidos. Quando o esposo está satisfeito com sua esposa, esta obtém todos os itens de que necessita, além de receber ornamentos e a plena satisfa­ção de seus sentidos. Nesta passagem, isso é evidenciado através do comportamento de Diti.

Texto

evaṁ striyā jaḍībhūto
vidvān api manojñayā
bāḍham ity āha vivaśo
na tac citraṁ hi yoṣiti

Sinônimos

evam — assim; striyā — pela mulher; jaḍībhūtaḥ — encantado; vidvān — muito erudito; api — embora; manojñayā — muito hábil; bāḍham — sim; iti — assim; āha — disse; vivaśaḥ — sob seu controle; na — não; tat — isto; citram — espantoso; hi — na verdade; yoṣiti — no que diz respeito às mulheres.

Tradução

Embora fosse um sábio erudito, Kaśyapa Muni se deixou cativar pelo comportamento superficial de Diti, que o colocou sob seu contro­le. Portanto, ele assegurou à sua esposa que satisfaria seus desejos. O marido fazer semelhante promessa não é algo que causa nenhum espanto.

Texto

vilokyaikānta-bhūtāni
bhūtāny ādau prajāpatiḥ
striyaṁ cakre sva-dehārdhaṁ
yayā puṁsāṁ matir hṛtā

Sinônimos

vilokya — vendo; ekānta-bhūtāni — desapegadas; bhūtāni — as entidades vivas; ādau — no começo; prajāpatiḥ — senhor Brahmā; striyam — a mulher; cakre — criou; sva-deha — do seu corpo; ardham — metade; yayā — por quem; puṁsām — dos homens; matiḥ — a mente; hṛtā — arrastada.

Tradução

No começo da criação, o senhor Brahmā, o pai das entidades vivas do universo, viu que todas elas estavam desapegadas. Para aumentar a população, ele criou a mulher a partir da melhor metade do homem, pois o comportamento feminino arrasta a mente do homem.

Comentário

SIGNIFICADO—Todo este universo se move sob o encanto do apego sexual, que foi criado pelo senhor Brahmā para aumentar a população de todo o universo, não apenas na sociedade humana, mas também em outras espécies. Como afirma Ṛṣabhadeva no quinto canto, puṁsaḥ striyā mithunī-bhāvam etam: o mundo inteiro se move sob o encanto da atração sexual e do desejo existente entre homem e mulher. Quando o homem e a mulher se unem, o nó cego decor­rente dessa atração se torna cada vez mais apertado, e, dessa maneira, o homem se envolve com o modo de vida materialista. Essa é a ilusão do mundo material. Essa ilusão atuou sobre Kaśyapa Muni, embora ele fosse muito erudito e avançado em conhecimento espiritual. Como se afirma na Manu-saṁhitā (2.215) e no Śrīmad-Bhāgavatam (9.19.17):

mātrā svasrā duhitrā vā
nāviviktāsano bhavet
balavān indriya-grāmo
vidvāṁsam api karṣati

“Um homem não deve ficar com uma mulher em um lugar solitário, mesmo que ela seja sua mãe, irmã ou filha, pois os sentidos são tão fortes que arrastam inclusive alguém de avançado conhecimento.” Quando um homem fica sozinho com uma mulher, seus desejos sexuais afloram indubitavelmente. Portanto, as palavras ekānta­bhūtāni, que são usadas aqui, indicam que, para evitar desejos sexuais, deve-se evitar a companhia de mulhe­res o máximo possível. O desejo sexual é tão poderoso que fica impregnado dele quem permanece em um lugar solitário com alguma mulher, mesmo que ela seja sua mãe, irmã ou filha.

Texto

evaṁ śuśrūṣitas tāta
bhagavān kaśyapaḥ striyā
prahasya parama-prīto
ditim āhābhinandya ca

Sinônimos

evam — assim; śuśrūṣitaḥ — sendo servido; tāta — ó prezado; bhagavān — o poderoso; kaśyapaḥ — Kaśyapa; striyā — pela mulher; prahasya — sorrindo; parama-prītaḥ — estando muito satisfeito; ditim — a Diti; āha — disse; abhinandya — aprovando; ca — também.

Tradução

Ó meu prezado, o poderosíssimo sábio Kaśyapa, extremamente satisfeito com o comportamento dócil de sua esposa Diti, sorriu e lhe falou o seguinte.

Texto

śrī-kaśyapa uvāca
varaṁ varaya vāmoru
prītas te ’ham anindite
striyā bhartari suprīte
kaḥ kāma iha cāgamaḥ

Sinônimos

śrī-kaśyapaḥ uvāca — Kaśyapa Muni disse; varam — bênção; varaya — pede; vāmoru — ó bela mulher; prītaḥ — satisfeito; te — contigo; aham — eu; anindite — ó dama impoluta; striyāḥ — para a mulher; bhartari — quando o esposo; su-prīte — satisfeito; kaḥ — que; kāmaḥ — desejo; iha — aqui; ca — e; agamaḥ — difícil de obter.

Tradução

Kaśyapa Muni disse: Ó belíssima mulher, ó dama impoluta, como estou muito satisfeito com o teu comportamento, podes pedir-me qualquer bênção que desejares. Se o esposo está satisfeito, que difi­culdade sua esposa teria para obter o que quiser, seja neste mundo, seja no próximo?

Texto

patir eva hi nārīṇāṁ
daivataṁ paramaṁ smṛtam
mānasaḥ sarva-bhūtānāṁ
vāsudevaḥ śriyaḥ patiḥ
sa eva devatā-liṅgair
nāma-rūpa-vikalpitaiḥ
ijyate bhagavān pumbhiḥ
strībhiś ca pati-rūpa-dhṛk

Sinônimos

patiḥ — o esposo; eva — na verdade; hi — decerto; nārīṇām — das mulheres; daivatam — semideus; paramam — supremo; smṛtam — é considerado; mānasaḥ — situado no coração; sarva-bhūtānām — de todas as entidades vivas; vāsudevaḥ — Vāsudeva; śriyaḥ — da deusa da fortuna; patiḥ — o esposo; saḥ — Ele; eva — decerto; devatā-liṅgaiḥ — pelas formas dos semideuses; nāma — nomes; rūpa — formas; vikalpitaiḥ — concebidas; ijyate — é adorado; bhagavān — a Suprema Personalida­de de Deus; pumbhiḥ — pelos homens; strībhiḥ — pelas mulheres; ca — ­também; pati-rūpa-dhṛk — sob a forma do esposo.

Tradução

O esposo é o semideus supremo da mulher. A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Vāsudeva, o esposo da deusa da fortuna, está situado no coração de todos e, através dos vários nomes e formas dos semideuses, é adorado pelos trabalhadores fruitivos. Do mesmo modo, o esposo representa o Senhor como o objeto de adoração para uma mulher.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (9.23), o Senhor diz:

ye ’py anya-devatā-bhaktā
yajante śraddhayānvitāḥ
te ’pi mām eva kaunteya
yajanty avidhi-pūrvakam

“Aqueles que são devotos de outros deuses e que os adoram com fé, na verdade adoram apenas a Mim, ó filho de Kuntī, mas não Me prestam a adoração correta.” Os semideuses são vários assistentes que agem como as mãos e pernas da Suprema Personalidade de Deus. Alguém que não está em contato direto com o Senhor Supremo e não consegue entender a sublime posição do Senhor, é às vezes acon­selhado a adorar os semideuses, que representam as várias partes do corpo do Senhor. Se as mulheres, que costumam ser muito ape­gadas a seus esposos, adoram seus esposos como representantes de Vāsudeva, elas se beneficiam, assim como Ajāmila se beneficiou ao chamar Nārāyaṇa, seu filho. Ajāmila estava interessado no seu filho, mas, devido a seu apego ao nome de Nārāyaṇa, alcançou a salva­ção graças ao simples fato de pronunciar esse nome. Na Índia, o esposo ainda é chamado de pati-guru, o esposo e mestre espiritual. Se o esposo e a esposa têm apego mútuo em prol do seu avanço em consciência de Kṛṣṇa, sua relação de cooperação é muito conducen­te a esse avanço. Embora os nomes de Indra e Agni às vezes sejam pronunciados nos mantras védicos (indrāya svāhā, agnaye svāhā), os sacrifícios védicos são realmente executados para satisfazer o Senhor Viṣṇu. Enquanto a pessoa estiver muito apegada ao gozo dos sentidos materiais, recomenda-se que preste adoração aos semi­deuses ou adoração ao esposo.

Texto

tasmāt pati-vratā nāryaḥ
śreyas-kāmāḥ sumadhyame
yajante ’nanya-bhāvena
patim ātmānam īśvaram

Sinônimos

tasmāt — portanto; pati-vratāḥ — devotadas ao esposo; nāryaḥ — mulheres; śreyaḥ-kāmāḥ — conscienciosas; su-madhyame — ó mulher de cintura fina; yajante — adorar; ananya-bhāvena — com devoção; patim — o esposo; ātmānam — a Superalma; īśvaram — representante da Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Minha querida esposa, de corpo tão belo e cintura fina, uma esposa zelosa deve ser casta e deve acatar as ordens do seu esposo. Com dedicação, ela deve adorar seu esposo como um representante de Vāsudeva.

Texto

so ’haṁ tvayārcito bhadre
īdṛg-bhāvena bhaktitaḥ
taṁ te sampādaye kāmam
asatīnāṁ sudurlabham

Sinônimos

saḥ — tal pessoa; aham — eu; tvayā — por ti; arcitaḥ — adorado; bhadre — ó gentil mulher; īdṛk-bhāvena — de tal maneira; bhakti­taḥ — com devoção; tam — este; te — teu; sampādaye — satisfarei; kāmam — desejo; asatīnām — para mulheres incastas; su-durlabham — inacessível.

Tradução

Minha querida e gentil esposa, porque me adoraste com muita de­voção, considerando-me um representante da Suprema Personalidade de Deus, eu te retribuirei satisfazendo os teus desejos, o que não é possível se a esposa é incasta.

Texto

ditir uvāca
varado yadi me brahman
putram indra-haṇaṁ vṛṇe
amṛtyuṁ mṛta-putrāhaṁ
yena me ghātitau sutau

Sinônimos

ditiḥ uvāca — Diti disse; vara-daḥ — o outorgador de bênçãos; yadi — se; me — para mim; brahman — ó grande alma; putram — um filho; indra-haṇam — que pode matar Indra; vṛṇe — estou pedindo; amṛtyum — imortal; mṛta-putrā — cujos filhos estão mortos; aham — eu; yena — por quem; me — meus; ghātitau — foram mortos; sutau — dois filhos.

Tradução

Diti respondeu: Ó meu esposo, ó grande alma, o fato é que perdi meus filhos. Se quiseres dar-me uma bênção, peço-te um filho imortal que consiga matar Indra. Suplico-te isso porque Indra, com a ajuda de Viṣṇu, matou meus dois filhos, Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu.

Comentário

SIGNIFICADO—A palavra indra-haṇam significa “aquele que pode matar Indra”, mas também significa “aquele que segue Indra”. A palavra amṛtyum se refere aos semideuses, que não morrem como os seres humanos comuns porque têm uma vida extremamente longa. Por exemplo, a Bhagavad-gītā especifica a duração da vida de Brahmā: sahasra-yuga-paryantam ahar yad brahmaṇo viduḥ. Mesmo a duração de um dia, ou doze horas, de Brahmā é 4.300.000 anos multiplicados por mil. Assim, a duração de sua vida é inconcebível para um ser humano comum. Os semideuses, portanto, às vezes são chamados de amara, que significa “aquele que não experimenta a morte”. Contudo, neste mundo material, todos têm que morrer. Portanto, a palavra amṛtyum indica que Diti queria um filho que tivesse o mesmo status dos semideuses.

Texto

niśamya tad-vaco vipro
vimanāḥ paryatapyata
aho adharmaḥ sumahān
adya me samupasthitaḥ

Sinônimos

niśamya — ouvindo; tat-vacaḥ — suas palavras; vipraḥ — o brāhma­ṇa; vimanāḥ — pesaroso; paryatapyata — lamentou-se; aho — ai de mim; adharmaḥ — impiedade; su-mahān — muito grande; adya — hoje; me — a mim; samupasthitaḥ — assediou.

Tradução

Ao ouvir o pedido de Diti, Kaśyapa Muni ficou muito pesaroso. “Ai de mim”, lamentou-se, “agora me defronto com o perigoso ato cruel de matar Indra!”

Comentário

SIGNIFICADO—Embora Kaśyapa Muni estivesse pronto para satisfazer o desejo de sua esposa Diti, seu júbilo foi imediatamente nulificado ao tomar conhecimento de que ela queria um filho que matas­se Indra, pois ele tinha aversão a essa ideia.

Texto

aho arthendriyārāmo
yoṣin-mayyeha māyayā
gṛhīta-cetāḥ kṛpaṇaḥ
patiṣye narake dhruvam

Sinônimos

aho — ai de mim; artha-indriya-ārāmaḥ — muito apegado ao gozo material; yoṣit-mayyā — sob a forma de uma mulher; iha — aqui; māyayā — da energia ilusória; gṛhīta-cetāḥ — minha mente ficando cativa; kṛpaṇaḥ — vil; patiṣye — cairei; narake — no inferno; dhruvam — na certa.

Tradução

Kaśyapa Muni pensou: Ai de mim, tornei-me, então, muito apegado ao gozo material. Em consequência disso, minha mente se sentiu­ atraída pela energia ilusória que emana da Suprema Personalidade de Deus e que se apresentou sob a forma de uma mulher [minha esposa]. Portanto, decerto sou uma pessoa vil que deslizará rumo ao inferno.

Texto

ko ’tikramo ’nuvartantyāḥ
svabhāvam iha yoṣitaḥ
dhiṅ māṁ batābudhaṁ svārthe
yad ahaṁ tv ajitendriyaḥ

Sinônimos

kaḥ — que; atikramaḥ — ofensa; anuvartantyāḥ — seguindo; sva­-bhāvam — sua natureza; iha — aqui; yoṣitaḥ — da mulher; dhik — condenação; mām — a mim; bata — ai de mim; abudham — não versado; sva-arthe — no que é bom para mim; yat — porque; aham — eu; tu — na verdade; ajita-indriyaḥ — incapaz de controlar meus sentidos.

Tradução

Esta mulher, minha esposa, adotou um meio que está de acordo com sua natureza, de modo que não se deve condená-la. Mas eu sou um homem. Portanto, toda a condenação é para mim! Não estou de modo algum a par do que é bom para mim, pois não pude controlar meus sentidos.

Comentário

SIGNIFICADO—É um instinto natural da mulher desfrutar do mundo material. Ela induz seu esposo a desfrutar deste mundo, satisfazendo-lhe a língua, o estômago e os órgãos genitais, que são chamados de jihvā, udara e upastha. A mulher é hábil em preparar pratos saborosos para que possa facilmente agradar seu esposo com alimentos. Quando alguém come bem, seu estômago fica satisfeito, e, logo que o estômago está satisfeito, os órgãos genitais se fortalecem. Especialmente quando está acostumado a comer carne e beber vinho e coisas parecidas que estão no modo da paixão, o homem decerto se torna propenso ao sexo. É bom que se saiba que as inclinações sexuais não se destinam ao progresso espiritual, senão que se destinam ao deslizamento rumo ao infer­no. Assim, Kaśyapa Muni analisou sua situação e se lamentou. Em outras palavras, ser um chefe de família é algo muito arriscado, exceto para alguém que é treinado e cuja esposa é sua seguidora. O esposo deve ser treinado desde o começo de sua vida. Kaumāra ācaret prājño dharmān bhāgavatān iha. (Śrīmad-Bhāgavatam 7.6.1) Durante a época de brahmacarya, ou vida de estudante, o brahmacārī deve aprender a ser hábil em bhāgavata-dharma, serviço devocional. Então, ao se casar, se sua esposa for fiel a ele e segui-lo, a relação entre esposo e esposa será muito conveniente. Entretanto, manter uma relação de esposo e esposa sem consciência espiritual, mas visando apenas ao gozo dos sentidos, não é aconselhável de modo algum. No Śrīmad-Bhāga­vatam (12.2.3), afirma-se que, em especial nesta era, Kali-yuga, dām-patye ’bhirucir hetuḥ: a relação entre esposo e esposa se baseará na potência sexual. Portanto, neste Kali-yuga, a vida familiar é extre­mamente perigosa a menos que a esposa e o esposo adotem a cons­ciência de Kṛṣṇa.

Texto

śarat-padmotsavaṁ vaktraṁ
vacaś ca śravaṇāmṛtam
hṛdayaṁ kṣura-dhārābhaṁ
strīṇāṁ ko veda ceṣṭitam

Sinônimos

śarat — no outono; padma — uma flor de lótus; utsavam — desabrochando; vaktram — rosto; vacaḥ — palavras; ca — e; śravaṇa — para o ouvido; amṛtam — dando prazer; hṛdayam — coração; kṣura-dhārā — a lâmina de uma navalha; ābham — como; strīṇām — das mulheres; kaḥ — quem; veda — conhece; ceṣṭitam — o procedimento.

Tradução

O rosto de uma mulher é tão atraente e belo como uma flor de lótus a desabrochar durante o outono. Suas palavras muito doces dão prazer ao ouvido, mas, caso estudemos o coração de uma mulher, poderemos descobrir que ele é extremamente afiado, como a lâmina de uma navalha. Nessas circunstâncias, quem poderá entender o procedimento de uma mulher?

Comentário

SIGNIFICADO—Neste ensejo, Kaśyapa Muni, valendo-se do ponto de vista materialista, apresenta-nos um ótimo retrato da natureza feminina. De um modo geral, as mulheres são conhecidas como o belo sexo, e, em especial na juventude, na idade de dezesseis ou dezessete anos, elas são muito atrativas para os homens. Portanto, o rosto de uma mulher é comparado a uma flor de lótus a desabrochar no outono. Assim como o lótus é extremamente belo no outono, uma mulher, no limiar da beleza juvenil, é extremamente atrativa. Em sânscrito, a voz de uma mulher se chama nārī-svara, porque as mulheres geralmente cantam e seu canto é muito atraente. No momento atual, as artistas de cinema, especialmente as cantoras, são especialmente queridas pelo público. Através da simples atividade de cantar, algumas delas ganham fabulosas quantias de dinheiro. Portanto, como adverte Śrī Caitanya Mahāprabhu, ouvir uma mulher cantar é perigoso porque pode fazer um sannyāsī cair vítima de mulheres. Sannyāsa significa abandonar a companhia de mulheres, mas, se um sannyāsī ouvir a voz de uma mulher, e ele vir seu belo rosto, por certo se sentirá atraído, e sua queda ocorrerá fatalmente. Tem havido muitos exemplos. Mesmo o grande sábio Viśvāmitra caiu vítima de Menakā. Portanto, quem deseja avançar em consciência espiritual deve tomar o cuidado es­pecial de não olhar para o rosto de uma mulher nem ouvir sua voz. Ver um rosto de mulher e apreciar sua beleza, ou ouvir a voz de uma mulher e apreciar a harmonia de seu canto implica em uma queda sutil para um brahmacārī ou para um sannyāsī. Assim, a descrição em que Kaśyapa Muni menciona as características femininas é muito instrutiva.

Quando as formas corpóreas de uma mulher são atrativas, quando o seu rosto é belo e quando sua voz é doce, ela naturalmente é uma armadilha para o homem. Os śāstras alertam que, quando tal mulher se aproxima para servir a um homem, ela deve ser considerada como um poço escuro coberto de grama. Nos campos, existem muitos desses poços, e o homem que não sabe da existência deles pisa na grama e cai no poço. Assim, há muitas dessas instruções. Como no mundo material a atração básica é dirigida às mulheres, Kaśyapa Muni pensou: “Nessas circunstâncias, quem pode entender o coração de uma mulher?” Cāṇakya Paṇḍita também aconselha que viśvāso naiva kartavyaḥ strīṣu rāja-kuleṣu ca: “Existem duas pessoas em quem não se deve confiar – um político e uma mulher.” É claro que esses são preceitos autorizados do śāstra e, portanto, deve-se tomar muito cuidado ao se lidar com mulheres.

Às vezes, nosso movimento da consciência de Kṛṣṇa é criticado por permitir o convívio de homens com mulheres, mas a consciência de Kṛṣṇa se destina a todos. Não importa se a pessoa é homem ou mulher. Pessoalmente, o Senhor Kṛṣṇa diz que striyo vaiśyās tathā śūdrās te ’pi yānti parāṁ gatim: se uma mulher, um śūdra ou um vaiśya são capazes de regressar ao lar, de regressar ao Supremo, se seguirem à risca as instruções do mestre espiritual e dos śāstras, o que dizer, então, de um brāhmaṇa ou de um kṣatriya? Portanto, pedi­mos a todos os membros do movimento da consciência de Kṛṣṇa – tanto aos homens quanto às mulheres – que não se deixem atrair pelas feições corpóreas, mas, isto sim, tenham atração apenas por Kṛṣṇa. Então, tudo estará certo. De outro modo, haverá perigos.

Texto

na hi kaścit priyaḥ strīṇām
añjasā svāśiṣātmanām
patiṁ putraṁ bhrātaraṁ vā
ghnanty arthe ghātayanti ca

Sinônimos

na — não; hi — decerto; kaścit — nenhuma pessoa; priyaḥ — querida; strīṇām — pelas mulheres; añjasā — realmente; sva-āśiṣā — para seu próprio interesse; ātmanām — muito querido; patim — esposo; pu­tram — filho; bhrātaram — irmão; — ou; ghnanti — elas matam; arthe — para seu próprio interesse; ghātayanti — fazem com que sejam mortos; ca — também.

Tradução

Para satisfazer seus próprios interesses, as mulheres lidam com os homens como se lhes fossem muito queridos, mas ninguém realmente lhes é querido. Acredita-se que as mulheres são muito santas, mas, para seu próprio interesse, elas podem inclusive matar seu esposo, filhos ou irmãos, ou providenciar que sejam mortos por outros.

Comentário

SIGNIFICADO—A natureza da mulher foi especificamente muito bem estudada por Kaśyapa Muni. Por natureza, as mulheres são interesseiras e, portanto, devem-se envidar todos os esforços para protegê-las e, somente assim, será possível conter a manifestação de sua inclinação natural a serem tão interesseiras. As mulheres precisam ser protegidas pelos homens. Na infância, a mulher deve ficar aos cuidados de seu pai; na juventude, aos cuidados de seu esposo e, na velhice, deve rece­ber os cuidados de seus filhos crescidos. Este preceito é de Manu, que diz que a mulher não deve ficar independente em fase alguma. Para que não encontrem espaço para manifestar sua tendência na­tural ao egoísmo crasso, as mulheres devem sempre ter alguém cuidando delas. Há muitos casos, mesmo atualmente, em que as mulheres mataram seus esposos para se beneficiarem de suas apólices de seguro. Isso não é uma crítica às mulheres, mas um estudo prático de sua natureza. Esses instintos naturais pre­sentes na mulher ou no homem se manifestam apenas no conceito de vida corpórea. Quando o homem ou a mulher são avançados em consciência espiritual, o conceito de vida corpórea praticamente de­saparece. Devemos ver todas as mulheres como entidades espirituais (ahaṁ brahmāsmi), cujo único dever é satisfazer Kṛṣṇa. Então, as influências dos diferentes modos da natureza material, resultantes do fato de se possuir um corpo material, não agirão.

O movimento da consciência de Kṛṣṇa é tão benéfico que facilmente pode anular a contaminação que surge da ligação com a natureza material e que resulta do fato de se possuir um corpo material. Portanto, bem no começo, a Bhagavad-gītā ensina que, quer alguém seja homem, quer seja mulher, deve saber que ele ou ela não é o corpo, mas é uma alma espiritual. Todos devem procurar se interessar pelas ati­vidades da alma espiritual, e não pelas atividades do corpo. Enquan­to alguém for impelido pelo conceito de vida corpóreo, sempre correrá o risco de ser desencaminhado, seja homem, seja mulher. Algumas vezes, descreve-se a alma como puruṣa porque, quer alguém se vista de homem, quer se vista de mulher, tem a inclinação para desfru­tar deste mundo material. Quem tem esse espírito de desfrutar é des­crito como puruṣa. Sendo homem ou mulher, não está interessado em servir aos outros; todos estão interessados em satis­fazer seus próprios sentidos. A consciência de Kṛṣṇa, entretanto, oferece aos homens e às mulheres treinamento de primeira classe. O homem deve ser treinado para ser um devoto impoluto do Senhor Kṛṣṇa, e a mulher deve ser treinada para ser uma seguidora muito casta de seu esposo. Com isso, os dois viverão muito felizes.

Texto

pratiśrutaṁ dadāmīti
vacas tan na mṛṣā bhavet
vadhaṁ nārhati cendro ’pi
tatredam upakalpate

Sinônimos

pratiśrutam — prometida; dadāmi — darei; iti — assim; vacaḥ — afirmação; tat — essa; na — não; mṛṣā — falsa; bhavet — pode ser; vadham — aniquilação; na — não; arhati — é adequada; ca — e; indraḥ — Indra; api — também; tatra — a este respeito; idam — isto; upakalpate — é adequado.

Tradução

Prometi outorgar-lhe uma bênção, e essa promessa não pode ser viola­da, mas Indra não merece ser morto. Nessas circunstâncias, a solu­ção que tenho é muito adequada.

Comentário

SIGNIFICADO—Kaśyapa Muni concluiu: “Diti está ansiosa por ter um filho que possa matar Indra, pois, afinal, ela é uma mulher e não é muito inteligente. Devo treiná-la de maneira tal que, em vez de estar sempre pensando em como matar Indra, ela se torne uma vaiṣṇavī, uma devota de Kṛṣṇa. Se ela concordar em seguir as regras e regula­ções dos princípios vaiṣṇavas, a sujeira que está no âmago de seu coração com certeza será tirada de lá.” Ceto-darpaṇa-mārjanam. Este é o processo do serviço devocional. Toda pessoa pode purificar-se caso siga os princípios do serviço devocional em consciência de Kṛṣṇa, pois a consciência de Kṛṣṇa é tão poderosa que pode purifi­car até mesmo os homens da classe mais suja e transformá-los em perfeitos vaiṣṇavas. O movimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu tem esse objetivo. Narottama Dāsa Ṭhākura diz:

vrajendra-nandana yei, śacī-suta haila sei,
balarāma ha-ila nitāi
dīna-hīna yata chila, hari-nāme uddhārila,
ta’ra sākṣī jagāi-mādhāi

O aparecimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu neste Kali-yuga se destina especialmente a libertar as almas caídas, que estão sempre planejando algo que lhes forneça gozo material. Ele deu à população desta era a vantagem de poder cantar o mantra Hare Kṛṣṇa e, assim, tornar-se inteiramente pura, livre de toda a contaminação material. Tão logo se transforma em um vaiṣṇava puro, o indivíduo transcende todos os conceitos de vida material. Assim, Kaśyapa Muni tentou trans­formar sua esposa em uma vaiṣṇavī para que ela pudesse abandonar a ideia de matar Indra. Ele queria que ela e seus filhos se purificas­sem e fossem capazes de se tornar vaiṣṇavas puros. Evidentemente, o aprendiz às vezes se desvia dos princípios vaiṣṇavas, e existe a possibilidade de ele cair, mas Kaśyapa Muni achava que, mesmo se alguém caísse enquanto praticava os princípios vaiṣṇavas, ainda assim não teria perda alguma. Mesmo um vaiṣṇava caído está apto a alcançar melhores resultados, como se confirma na Bhagavad-gītā (2.4), svalpam apy asya dharmasya trāyate mahato bhayāt: mesmo quem pratica uma pequena porção dos princípios vaiṣṇavas pode salvar-se do maior perigo oferecido pela existência material. Assim, porque queria salvar a vida de Indra, Kaśyapa Muni planejou instruir sua esposa Diti a se tornar uma vaiṣṇavī.

Texto

iti sañcintya bhagavān
mārīcaḥ kurunandana
uvāca kiñcit kupita
ātmānaṁ ca vigarhayan

Sinônimos

iti — assim; sañcintya — pensando; bhagavān — o poderoso; mārīcaḥ — Kaśyapa Muni; kuru-nandana — ó descendente de Kuru; uvāca — falou; kiñcit — um tanto; kupitaḥ — irado; ātmānam — a ele próprio; ca — e; vigarhayan — condenando.

Tradução

Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Kaśyapa Muni, pensando dessa ma­neira, ficou um tanto irado. Condenando-se, ó Mahārāja Parīkṣit, descendente de Kuru, ele falou a Diti as seguintes palavras.

Texto

śrī-kaśyapa uvāca
putras te bhavitā bhadre
indra-hādeva-bāndhavaḥ
saṁvatsaraṁ vratam idaṁ
yady añjo dhārayiṣyasi

Sinônimos

śrī-kaśyapaḥ uvāca — Kaśyapa Muni disse; putraḥ — filho; te — teu; bhavitā — será; bhadre — ó mulher gentil; indra- — matador de Indra, ou seguidor de Indra; adeva-bāndhavaḥ — amigo dos demônios (ou deva-bāndhavaḥ – amigo dos semideuses); saṁvatsaram — por um ano; vratam — voto; idam — este; yadi — se; añjaḥ — apropriadamente; dhārayiṣyasi — executares.

Tradução

Kaśyapa Muni disse: Minha querida e gentil esposa, se, durante o período de pelo menos um ano, seguires minhas instruções referentes a este voto, é certo que terás um filho capaz de matar Indra. Contudo, se te desviares deste voto de seguir os princípios vaiṣṇavas, terás um filho que fará uma aliança com Indra.

Comentário

SIGNIFICADO—A palavra indra-hā se refere a um asura sempre ansioso por matar Indra. Um inimigo de Indra naturalmente é amigo dos asuras, mas a palavra indra-hā se refere, também, a alguém que segue Indra ou que obedece a suas ordens. Quando alguém se torna devoto de Indra, decerto é amigo dos semideuses. Assim, as palavras indra-hādeva­-bāndhavaḥ são ambíguas, pois dizem: “Teu filho matará Indra, mas será um grande amigo dos semideuses.” Quem realmente se torna amigo dos semideuses decerto não seria capaz de matar Indra.

Texto

ditir uvāca
dhārayiṣye vrataṁ brahman
brūhi kāryāṇi yāni me
yāni ceha niṣiddhāni
na vrataṁ ghnanti yāny uta

Sinônimos

ditiḥ uvāca — Diti disse; dhārayiṣye — aceitarei; vratam — voto; brahman — meu querido brāhmaṇa; brūhi — por favor, dize; kāryāṇi — deve ser feito; yāni — que; me — a mim; yāni — que; ca — e; iha — aqui; niṣiddhāni — é proibido; na — não; vratam — o voto; ghnanti — quebra; yāni — que; uta — também.

Tradução

Diti respondeu: Meu querido brāhmaṇa, devo aceitar o teu conselho e cumprir o voto. Dize-me, então, o que devo fazer, o que é proibido e como devo proceder. Por favor, fala com toda a clareza para que o voto não seja quebrado.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirmou acima, a mulher tem a tendência a servir aos seus próprios interesses, de um modo geral. Kaśyapa Muni propôs treinar Diti para lhe satisfazer os desejos dentro de um ano, e, uma vez que ela estava ansiosa por matar Indra, ela concordou de imediato, dizendo: “Por favor, deixa-me saber qual é o voto e como devo proceder para segui-lo. Prometo que farei tudo o que for ne­cessário e não quebrarei o voto.” Esse é outro aspecto da psicologia feminina. Muito embora a mulher deseje muito satisfazer seus próprios planos, quando alguém a instrui, em especial se for o seu esposo, ela segue ingenuamente e, dessa maneira, pode ser treinada em propósitos superiores. Por natureza, a mulher quer ser seguidora de um homem; portanto, se o homem for bom, a mulher poderá ser treinada em bons propósitos.

Texto

śrī-kaśyapa uvāca
na hiṁsyād bhūta-jātāni
na śapen nānṛtaṁ vadet
na chindyān nakha-romāṇi
na spṛśed yad amaṅgalam

Sinônimos

śrī-kaśyapaḥ uvāca — Kaśyapa Muni disse; na hiṁsyāt — não deves molestar; bhūta-jātāni — as entidades vivas; na śapet — não deves amaldiçoar; na — não; anṛtam — uma mentira; vadet — deves falar; na chindyāt — não deves cortar; nakha-romāṇi — as unhas e cabelo; na spṛśet — não deves tocar; yat — aquilo que; amaṅgalam — impuro.

Tradução

Kaśyapa Muni disse: Minha querida esposa, para seguir este voto, não sejas violenta e não prejudiques ninguém. Não amaldiçoes ninguém e não verbalizes mentira alguma. Não cortes tuas unhas e cabelo, e não toques coisas impuras, tais como crânios e ossos.

Comentário

SIGNIFICADO—Em sua primeira instrução à sua esposa, Kaśyapa Muni disse que ela não deveria ser invejosa. A tendência geral de todos aqueles que estão neste mundo material é serem invejosos, e, portanto, como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (paramo nirmatsarāṇām), para alguém se tornar consciente de Kṛṣṇa, deve suprimir essa tendên­cia. Quem é consciente de Kṛṣṇa jamais é invejoso, ao passo que os demais são sempre invejosos. Assim, a instrução de Kaśyapa Muni para sua esposa, sugerindo que ela não fosse invejosa, mostra que essa é a primeira etapa do avanço em consciência de Kṛṣṇa. Kaśyapa Muni desejava treinar sua esposa para ser consciente de Kṛṣṇa, dado que isso garantiria sua proteção e a proteção de Indra.

Texto

nāpsu snāyān na kupyeta
na sambhāṣeta durjanaiḥ
na vasītādhauta-vāsaḥ
srajaṁ ca vidhṛtāṁ kvacit

Sinônimos

na — não; apsu — na água; snāyāt — deves banhar-te; na kupyeta — não deves ficar irada; na sambhāṣeta — não deves falar; durjanaiḥ — com pessoas sórdidas; na vasīta — não deves usar; adhauta-vāsaḥ — roupas não lavadas; srajam — guirlanda de flores; ca — e; vidhṛtām — que já foi usada; kvacit — jamais.

Tradução

Kaśyapa Muni prosseguiu: Minha querida e gentil esposa, nunca entres na água enquanto tomas banho, nunca fiques irada, e nem mesmo fales ou te associes com pessoas perversas. Nunca coloques roupas que não foram adequadamente lavadas, e não uses uma guirlanda que já foi usada.

Texto

nocchiṣṭaṁ caṇḍikānnaṁ ca
sāmiṣaṁ vṛṣalāhṛtam
bhuñjītodakyayā dṛṣṭaṁ
piben nāñjalinā tv apaḥ

Sinônimos

na — não; ucchiṣṭam — restos de comida; caṇḍikā-annam — alimento oferecido à deusa Kālī; ca — e; sa-āmiṣam — misturado com carne; vṛṣala-āhṛtam — trazido por um śūdra; bhuñjīta — deves comer; udakyayā — por uma mulher em seu período menstrual; dṛṣṭam — visto; pibet na — não deves beber; añjalinā — juntando as palmas das mãos e as colocando em forma de concha; tu — também; apaḥ — água.

Tradução

Jamais comas restos de comida, nem comas prasāda oferecida à deusa Kālī [Durgā], e não comas nada que esteja contaminado com carne ou peixe. Jamais comas algo trazido ou tocado por um śūdra nem algo visto por uma mulher em seu período menstrual. Não bebas água juntando as palmas de tuas mãos.

Comentário

SIGNIFICADO—Em geral, oferece-se à deusa Kālī alimento contendo carne ou peixe, e, portanto, Kaśyapa Muni proibiu terminantemente sua espo­sa de aceitar os restos desse tipo de alimento. Na verdade, o vaiṣṇava não tem a permissão de aceitar nenhum alimento oferecido aos se­mideuses. O vaiṣṇava sempre é fiel em se servir da prasāda oferecida ao Senhor Viṣṇu. Através de todas essas instruções, Kaśyapa Muni, com suas proibições, ensinou sua esposa Diti a se tornar uma vaiṣṇavī.

Texto

nocchiṣṭāspṛṣṭa-salilā
sandhyāyāṁ mukta-mūrdhajā
anarcitāsaṁyata-vāk
nāsaṁvītā bahiś caret

Sinônimos

na — não; ucchiṣṭā — após comer; aspṛṣṭa-salilā — sem lavar; san­dhyāyām — à noite; mukta-mūrdhajā — com o cabelo solto; anar­citā — sem ornamentos; asaṁyata-vāk — sem ser grave; na — não; asaṁvītā — sem estar trajada; bahiḥ — para fora; caret — deves ir.

Tradução

Após comer, não deves sair à rua sem lavar tua boca, tuas mãos e teus pés. Não deves sair à noite nem deves sair com os cabelos soltos, tampouco deves sair se não estiveres devidamente decorada com adornos. Não deves sair de casa a menos que estejas muito grave e suficientemente vestida.

Comentário

SIGNIFICADO—Kaśyapa Muni aconselhou sua esposa a não sair à rua a menos que estivesse bem decorada e bem vestida. Ele não estimulou o uso das minissaias que são moda na atualidade. Na civilização orien­tal, ao sair à rua, a mulher deve estar completamente coberta para que nenhum homem reconheça quem ela é. Todos esses métodos devem ser aceitos como um processo de purificação. Se alguém adota a consciência de Kṛṣṇa, purifica-se por completo e, dessa maneira, permanece sempre transcendental à contaminação existente no mundo material.

Texto

nādhauta-pādāprayatā
nārdra-pādā udak-śirāḥ
śayīta nāparāṅ nānyair
na nagnā na ca sandhyayoḥ

Sinônimos

na — não; adhauta-pādā — sem lavar os pés; aprayatā — sem te purificares; na — não; ardra-pādā — com pés molhados; udak-śirāḥ — com a cabeça voltada para o norte; śayīta — deves deitar; na — não; aparāk — com a cabeça voltada para o oeste; na — não; anyaiḥ — com outras mulheres; na — não; nagnā — despida; na — não; ca — e; sandhyayoḥ — na alvorada e no pôr do sol.

Tradução

Não deves deitar sem lavar os pés ou sem te purificar, nem com os pés molhados ou com a cabeça voltada para o oeste ou para o norte. Não deves dormir despida, ou com outras mulheres, ou durante a alvorada ou ao pôr do sol.

Texto

dhauta-vāsā śucir nityaṁ
sarva-maṅgala-saṁyutā
pūjayet prātarāśāt prāg
go-viprāñ śriyam acyutam

Sinônimos

dhauta-vāsā — vestindo roupa lavada; śuciḥ — estando purificada; nityam — sempre; sarva-maṅgala — com todos os produtos auspicio­sos; saṁyutā — adornada; pūjayet — a pessoa deve adorar; prātaḥ-āśāt prāk — antes do desjejum; go-viprān — as vacas e os brāhmaṇas; śriyam — a deusa da fortuna; acyutam — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Vestindo roupa lavada, permanecendo sempre pura e estando en­feitada com cúrcuma, polpa de sândalo e outros produtos auspi­ciosos, deve-se adorar as vacas, os brahmaṇas, a deusa da fortuna e a Suprema Personalidade de Deus antes do desjejum.

Comentário

SIGNIFICADO—Se alguém é treinado em honrar e adorar as vacas e os brahmaṇas, é realmente civilizado. Recomenda-se adorar o Senhor Supremo, e o Senhor gosta muito das vacas e dos brāhmaṇas (namo brahmaṇya­-devāya go-brāhmaṇa-hitāya ca). Em outras palavras, a civilização que não respeita as vacas e os brāhmaṇas é condenada. Só pode avan­çar espiritualmente quem adquire qualificações bramânicas e confere pro­teção às vacas. A proteção às vacas assegura suficiente alimento preparado com leite, que é necessário a uma civilização avançada. Ninguém deve corromper a sociedade com o ato de comer carne de vaca. Civilização é aquela que consegue fazer algo progressista. Somente então ela é uma civilização ariana. Em vez de matar a vaca para comer sua carne, os homens civilizados devem preparar vários produtos lácteos que melhorarão a condição da sociedade. Quem segue a cultura bramânica se torna competente em consciência de Kṛṣṇa.

Texto

striyo vīravatīś cārcet
srag-gandha-bali-maṇḍanaiḥ
patiṁ cārcyopatiṣṭheta
dhyāyet koṣṭha-gataṁ ca tam

Sinônimos

striyaḥ — mulheres; vīra-vatīḥ — possuindo esposos e filhos; ca — e; arcet — ela deve adorar; srak — com guirlandas; gandha — polpa de sândalo; bali — presentes; maṇḍanaiḥ — e com ornamentos; patim — o esposo; ca — e; ārcya — adorando; upatiṣṭheta — deve oferecer orações; dhyāyet — deve meditar; koṣṭha-gatam — situado no ventre; ca — também; tam — nele.

Tradução

Com guirlandas de flores, polpa de sândalo, ornamentos e outros artigos, a mulher que segue este voto deve adorar as mulheres que têm filhos e cujos esposos estão vivos. A esposa grávida deve adorar seu esposo e lhe oferecer orações. Ela deve meditar nele, pensando que ele está situado em seu ventre.

Comentário

SIGNIFICADO—A criança no ventre é uma parte do corpo do esposo. Portanto, o es­poso, através do seu representante, permanece indiretamente dentro do ventre de sua esposa grávida.

Texto

sāṁvatsaraṁ puṁsavanaṁ
vratam etad aviplutam
dhārayiṣyasi cet tubhyaṁ
śakra-hā bhavitā sutaḥ

Sinônimos

sāṁvatsaram — durante um ano; puṁsavanam — chamado puṁsavana; vratam — voto; etat — e; aviplutam — sem violação; dhārayiṣya­si — realizares; cet — se; tubhyam — para ti; śakra- — o matador de Indra; bhavitā — será; sutaḥ — um filho.

Tradução

Kaśyapa Muni continuou: Se realizares esta cerimônia chamada puṁsavana, cumprindo fielmente o voto durante pelo menos um ano, darás à luz um filho destinado a matar Indra. Porém, se houver alguma discrepância no desempenho deste voto, o filho será amigo de Indra.

Texto

bāḍham ity abhyupetyātha
ditī rājan mahā-manāḥ
kaśyapād garbham ādhatta
vrataṁ cāñjo dadhāra sā

Sinônimos

bāḍham — sim; iti — desta maneira; abhyupetya — aceitando; atha — então; ditiḥ — Diti; rājan — ó rei; mahā-manāḥ — jubilante; kaśyapāt — de Kaśyapa; garbham — sêmen; ādhatta — obteve; vratam — o voto; ca — e; añjaḥ — apropriadamente; dadhāra — seguiu; — ela.

Tradução

Ó rei Parīkṣit, Diti, a esposa de Kaśyapa, concordou em se submeter ao processo purificatório conhecido como puṁsavana. “Sim”, disse ela, “farei tudo de acordo com tuas instruções.” Em grande júbilo, ela engravidou, tendo recebido o sêmen de Kaśyapa, e fiel­mente começou a cumprir o voto.

Texto

mātṛ-ṣvasur abhiprāyam
indra ājñāya mānada
śuśrūṣaṇenāśrama-sthāṁ
ditiṁ paryacarat kaviḥ

Sinônimos

mātṛ-svasuḥ — da irmã de sua mãe; abhiprāyam — a intenção; indraḥ — Indra; ājñāya — entendendo; māna-da — ó rei Parīkṣit, que respeitas a todos; śuśrūṣaṇena — com serviço; āśrama-sthām — residindo em um āśrama; ditim — Diti; paryacarat — prestando serviço a; kaviḥ — cuidando de seu próprio interesse.

Tradução

Ó rei, que és respeitoso com todos, Indra compreendeu o que Diti intencionava e, dessa maneira, elaborou um plano para concretizar seus próprios interesses. Seguindo a lógica de que a autopreservação é a primeira lei da natureza, ele queria fazer com que Diti quebrasse sua promessa. Portanto, passou a servir Diti, sua tia, que residia em um āśrama.

Texto

nityaṁ vanāt sumanasaḥ
phala-mūla-samit-kuśān
patrāṅkura-mṛdo ’paś ca
kāle kāla upāharat

Sinônimos

nityam — diariamente; vanāt — da floresta; sumanasaḥ — flores; phala — frutas; mūla — raízes; samit — madeira para o fogo sacrificatório; kuśān — e grama kuśa; patra — folhas; aṅkura — brotos; mṛdaḥ — e terra; apaḥ — água; ca — também; kāle kāle — na hora certa; upāharat — trazia.

Tradução

Diariamente, Indra servia à sua tia, trazendo da floresta flores, frutas, raízes e pedaços de madeira para a realização de yajñas. Ele também trazia grama kuśa, folhas, brotos, terra e água na hora precisamente adequada.

Texto

evaṁ tasyā vrata-sthāyā
vrata-cchidraṁ harir nṛpa
prepsuḥ paryacaraj jihmo
mṛga-heva mṛgākṛtiḥ

Sinônimos

evam — assim; tasyāḥ — dela; vrata-sthāyāḥ — que fielmente estava cumprindo o seu voto; vrata-chidram — uma falha na execução do voto; hariḥ — Indra; nṛpa — ó rei; prepsuḥ — desejando encontrar; paryacarat — servia; jihmaḥ — dissimulado; mṛga- — um caçador; iva — como; mṛga-ākṛtiḥ — sob a forma de veado.

Tradução

Ó rei Parīkṣit, assim como um caçador de veados se torna tal qual o veado ao se cobrir com a pele de veado e ao servir ao veado, da mesma maneira, Indra, embora no fundo do coração fosse inimigo dos filhos de Diti, tornou-se externamente amistoso e prestou a Diti um serviço fiel. O propósito de Indra era surpreender Diti, detectando alguma falha enquanto ela cumpria os votos da cerimônia ritualística. Entretanto, como não queria ser descoberto, servia-lhe com muito cuidado.

Texto

nādhyagacchad vrata-cchidraṁ
tat-paro ’tha mahī-pate
cintāṁ tīvrāṁ gataḥ śakraḥ
kena me syāc chivaṁ tv iha

Sinônimos

na — não; adhyagacchat — pôde encontrar; vrata-chidram — uma falha na execução do voto; tat-paraḥ — alerta para isso; atha — em se­guida; mahī-pate — ó mestre do mundo; cintām — ansiedade; tīvrām — intensa; gataḥ — obteve; śakraḥ — Indra; kena — como; me — meu; syāt — pode haver; śivam — bem-estar; tu — então; iha — aqui.

Tradução

Ó mestre do mundo inteiro, não podendo encontrar defeitos, Indra pensou: “Como haverá boa fortuna para mim?” Desta maneira, ele es­tava cheio de uma profunda ansiedade.

Texto

ekadā sā tu sandhyāyām
ucchiṣṭā vrata-karśitā
aspṛṣṭa-vāry-adhautāṅghriḥ
suṣvāpa vidhi-mohitā

Sinônimos

ekadā — certa vez; — ela; tu — porém; sandhyāyām — durante o crepúsculo vespertino; ucchiṣṭā — logo após comer; vrata — do voto; karśitā — fraca e magra; aspṛṣṭa — não tocou; vāri — na água; adhau­ta — não lavou; aṅghriḥ — seus pés; suṣvāpa — foi dormir; vidhi — pelo destino; mohitā — desorientada.

Tradução

Tendo ficado fraca e magra devido a seguir estritamente os princípios do voto, Diti, certa vez, desafortunadamente, deixou de lavar a boca, as mãos e os pés após comer e foi dormir durante o crepúsculo vespertino.

Texto

labdhvā tad-antaraṁ śakro
nidrāpahṛta-cetasaḥ
diteḥ praviṣṭa udaraṁ
yogeśo yoga-māyayā

Sinônimos

labdhvā — descobrindo; tat-antaram — depois disso; śakraḥ — Indra; nidrā — pelo sono; apahṛta-cetasaḥ — inconsciente; diteḥ — de Diti; praviṣṭaḥ — entrou; udaram — no ventre; yoga-īśaḥ — o mestre do yoga; yoga — das perfeições ióguicas; māyayā — pelo poder.

Tradução

Descobrindo esta falha, Indra, que tem todos os poderes místicos [os yoga-siddhis, tais como aṇimā e laghimā], entrou no ventre de Diti enquanto ela, em sono profundo, estava inconsciente.

Comentário

SIGNIFICADO—O yogī perfeitamente realizado é hábil em oito classes de perfei­ção. Através de uma delas, chamada aṇimā-siddhi, ele pode tornar­-se menor do que um átomo e, nesse caso, consegue entrar em qualquer local. Com esse poder ióguico, Indra entrou no ventre de Diti en­quanto ela estava grávida.

Texto

cakarta saptadhā garbhaṁ
vajreṇa kanaka-prabham
rudantaṁ saptadhaikaikaṁ
mā rodīr iti tān punaḥ

Sinônimos

cakarta — ele cortou; sapta-dhā — em sete pedaços; garbham — o embrião; vajreṇa — com seu raio; kanaka — de ouro; prabham — que tinha uma aparência; rudantam — chorando; sapta-dhā — em sete pedaços; eka-ekam — cada um; rodīḥ — não choreis; iti — assim; tān — a eles; punaḥ — novamente.

Tradução

Após entrar no ventre de Diti, Indra, com a ajuda de seu raio, cortou em sete pedaços o embrião, que parecia ouro reluzente. Em sete lugares, sete diferentes seres vivos começaram a chorar. Indra lhes disse: “Não choreis” e, então, mais uma vez, cortou cada um deles em sete pedaços.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta que Indra, através de seu poder ióguico, primeiramente desdobrou em sete o corpo de um Marut e, depois, ao cortar cada uma das sete partes do corpo original em mais outros pedaços, totalizaram-se quarenta e nove. Quando cada corpo foi cortado em sete, outras entidades vivas en­traram nos novos corpos, e, dessa maneira, estes eram como plantas, que se tornam entidades separadas quando cortadas em várias partes e plantadas em um canteiro. Havia um primeiro corpo, e, quando este foi cortado em muitos pedaços, muitas outras entidades vivas en­traram nos novos corpos.

Texto

tam ūcuḥ pāṭyamānās te
sarve prāñjalayo nṛpa
kiṁ na indra jighāṁsasi
bhrātaro marutas tava

Sinônimos

tam — a ele; ūcuḥ — disseram; pāṭyamānāḥ — estando aflitos; te — eles; sarve — todos; prāñjalayaḥ — de mãos postas; nṛpa — ó rei; kim — por que; naḥ — a nós; indra — ó Indra; jighāṁsasi — queres matar; bhrātaraḥ — irmãos; marutaḥ — Maruts; tava — teus.

Tradução

Ó rei, estando muito aflitos, eles, de mãos postas, imploraram a Indra, dizendo: “Querido Indra, somos os Maruts, teus irmãos. Por que estás tentando matar-nos?”

Texto

mā bhaiṣṭa bhrātaro mahyaṁ
yūyam ity āha kauśikaḥ
ananya-bhāvān pārṣadān
ātmano marutāṁ gaṇān

Sinônimos

bhaiṣṭa — não temais; bhrātaraḥ — irmãos; mahyam — meus; yūyam — vós; iti — assim; āha — disse; kauśikaḥ — Indra; ananya-bhāvān — devotados; pārṣadān — seguidores; ātmanaḥ — seus; marutām gaṇān — os Maruts.

Tradução

Ao perceber que realmente eles eram seus devotados seguidores, Indra lhes disse: Se todos vós sois meus irmãos, não há por que me temerdes.

Texto

na mamāra diter garbhaḥ
śrīnivāsānukampayā
bahudhā kuliśa-kṣuṇṇo
drauṇy-astreṇa yathā bhavān

Sinônimos

na — não; mamāra — morreu; diteḥ — de Diti; garbhaḥ — o embrião; śrīnivāsa — do Senhor Viṣṇu, o lugar onde repousa a deusa da for­tuna; anukampayā — pela misericórdia; bahu-dhā — em muitos peda­ços; kuliśa — pelo raio; kṣuṇṇaḥ — cortado; drauṇi — de Aśvatthāmā; astreṇa — pela arma; yathā — do mesmo modo; bhavān — tu.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Meu querido rei Parīkṣit, sentiste o calor emitido pela brahmāstra de Aśvatthāmā, mas, quando o Senhor Kṛṣṇa entrou no ventre de tua mãe, foste salvo. Do mesmo modo, embora o raio de Indra tivesse cortado o embrião em quarenta e nove pedaços, todos eles foram salvos pela misericórdia da Suprema Personalidade de Deus.

Texto

sakṛd iṣṭvādi-puruṣaṁ
puruṣo yāti sāmyatām
saṁvatsaraṁ kiñcid ūnaṁ
dityā yad dharir arcitaḥ
sajūr indreṇa pañcāśad
devās te maruto ’bhavan
vyapohya mātṛ-doṣaṁ te
hariṇā soma-pāḥ kṛtāḥ

Sinônimos

sakṛt — uma só vez; iṣṭvā — adorando; ādi-puruṣam — a pessoa original; puruṣaḥ — uma pessoa; yāti — vai a; sāmyatām — possuindo os mesmos traços físicos do Senhor; saṁvatsaram — um ano; kiñcit ūnam — um pouco menos do que; dityā — por Diti; yat — porque; hariḥ — o Senhor Hari; arcitaḥ — foi adorado; sajūḥ — com; indreṇa — Indra; pañcāśat — cinquenta; devāḥ — semideuses; te — eles; maru­taḥ — os Maruts; abhavan — tornaram-se; vyapohya — removendo; mātṛ-doṣam — a falha cometida por sua mãe; te — eles; hariṇā — pelo Senhor Hari; soma-pāḥ — bebedores de soma-rasa; kṛtāḥ — foram transformados em.

Tradução

Se, ao menos uma só vez, alguém adora a Suprema Personalidade de Deus, a pessoa original, recebe o benefício de ser promovido ao mundo espiritual e possuir os mesmos traços físicos de Viṣṇu. Diti adorou o Senhor Viṣṇu durante quase um ano, submetendo-se a um grande voto. Devido a essa força adquirida na vida espiritual, os quarenta e nove Maruts nasceram. Então, o que há de surpreen­dente no fato de, pela misericórdia do Senhor Supremo, os Maruts, embora nascidos do ventre de Diti, terem-se tornado iguais aos semideuses?

Texto

ditir utthāya dadṛśe
kumārān anala-prabhān
indreṇa sahitān devī
paryatuṣyad aninditā

Sinônimos

ditiḥ — Diti; utthāya — levantando-se; dadṛśe — viu; kumārān — fi­lhos; anala-prabhān — tão brilhantes como o fogo; indreṇa sahitān — com Indra; devī — a deusa; paryatuṣyat — ficou satisfeita; aninditā — estando purificada.

Tradução

Devido à sua adoração à Suprema Personalidade de Deus, Diti se purificou por completo. Quando se levantou da cama, viu seus quarenta e nove filhos juntamente com Indra. Todos esses quarenta e nove filhos, tão brilhantes como o fogo, eram amigos de Indra, de modo que ela ficou muito satisfeita.

Texto

athendram āha tātāham
ādityānāṁ bhayāvaham
apatyam icchanty acaraṁ
vratam etat suduṣkaram

Sinônimos

atha — em seguida; indram — a Indra; āha — falou; tāta — querido; aham — eu; ādityānām — dos Ādityas; bhaya-āvaham — com medo; apatyam — um filho; icchantī — desejando; acaram — executei; vratam — voto; etat — este; su-duṣkaram — muito difícil de realizar.

Tradução

Em seguida, Diti falou a Indra: Meu querido filho, eu me submeti a este difícil voto apenas para obter um filho que pudesse matar os doze Ādityas.

Texto

ekaḥ saṅkalpitaḥ putraḥ
sapta saptābhavan katham
yadi te viditaṁ putra
satyaṁ kathaya mā mṛṣā

Sinônimos

ekaḥ — um; saṅkalpitaḥ — suplicou-se; putraḥ — filho; sapta sapta — quarenta e nove; abhavan — vieram a existir; katham — como; yadi — se; te — por ti; viditam — conhecida; putra — meu querido filho; satyam — a verdade; kathaya — fala; — não (fales); mṛṣā — mentiras.

Tradução

Pedi em minha súplica por apenas um filho, mas vejo um total de quarenta e nove. Como isso aconteceu? Meu querido filho Indra, se souberes, por favor, dize-me a verdade. Não tentes mentir para mim.

Texto

indra uvāca
amba te ’haṁ vyavasitam
upadhāryāgato ’ntikam
labdhāntaro ’cchidaṁ garbham
artha-buddhir na dharma-dṛk

Sinônimos

indraḥ uvāca — Indra disse; amba — ó mãe; te — teu; aham — eu; vyavasitam — voto; upadhārya — compreendendo; āgataḥ — vim; antikam — para perto; labdha — tendo encontrado; antaraḥ — uma falha; acchidam — cortei; garbham — o embrião; artha-buddhiḥ — sendo egoísta; na — não; dharma-dṛk — vendo o caminho da religião.

Tradução

Indra respondeu: Minha querida mãe, porque eu estava grosseiramente cego pelos interesses egoístas, afastei-me do caminho da reli­gião. Quando compreendi que estavas observando um grande voto em que te dedicavas à vida espiritual, procurei encontrar alguma falha em ti. Quando descobri essa falha, entrei em teu ventre e cortei o embrião em pedaços.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando Diti, tia de Indra, explicou-lhe sem reservas o que queria fazer, Indra, por sua vez, revelou-lhe quais eram as suas intenções. Assim, ambos, em vez de se tornarem inimigos, falaram franca­mente a verdade. Essa qualificação resulta do contato com Viṣṇu. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (5.18.12):

yasyāsti bhaktir bhagavaty akiñcanā
sarvair guṇais tatra samāsate surāḥ

Se alguém cultiva uma atitude devocional e se purifica adorando o Senhor Supremo, é certo que todas as boas qualidades se manifestam em seu corpo. Porque foram tocados pela adoração a Viṣṇu, tanto Diti quanto Indra se purificaram.

Texto

kṛtto me saptadhā garbha
āsan sapta kumārakāḥ
te ’pi caikaikaśo vṛkṇāḥ
saptadhā nāpi mamrire

Sinônimos

kṛttaḥ — cortado; me — por mim; sapta-dhā — em sete; garbhaḥ — o embrião; āsan — veio a ser; sapta — sete; kumārakāḥ — bebês; te — eles; api — embora; ca — também; eka-ekaśaḥ — cada um; vṛkṇāḥ — cortado; sapta-dhā — em sete; na — não; api — mesmo assim; mamrire — morreram.

Tradução

Primeiramente, cortei em sete pedaços a criança que estava no ventre, a qual se transformou em sete filhos. Então, voltei a cortar cada um deles em sete pedaços. Entretanto, pela graça do Senhor Supremo, nenhum deles morreu.

Texto

tatas tat paramāścaryaṁ
vīkṣya vyavasitaṁ mayā
mahāpuruṣa-pūjāyāḥ
siddhiḥ kāpy ānuṣaṅgiṇī

Sinônimos

tataḥ — então; tat — isto; parama-āścaryam — grande espanto; vīkṣya — vendo; vyavasitam — foi depreendido; mayā — por mim; mahā­puruṣa — ao Senhor Viṣṇu; pūjāyāḥ — da adoração; siddhiḥ — resul­tado; kāpi — algum; ānuṣaṅgiṇī — subsidiário.

Tradução

Minha querida mãe, quando vi que todos os quarenta e nove filhos estavam vivos, fiquei deveras espantado. Concluí que esse resultado subsidiário te foi concedido devido à tua execução regular de serviço devocional em adoração ao Senhor Viṣṇu.

Comentário

SIGNIFICADO—Para uma pessoa que se ocupa em adorar o Senhor Viṣṇu, nada lhe é muito espantoso. Isso é fato. Na Bhagavad-gītā (18.78), afirma-se:

yatra yogeśvaraḥ kṛṣṇo
yatra pārtho dhanur-dharaḥ
tatra śrīr vijayo bhūtir
dhruvā nītir matir mama

“Onde quer que esteja Kṛṣṇa, o senhor de todos os místicos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, com certeza também haverá opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade. Esta é a minha opinião.” Yogeśvara é a Suprema Personalidade de Deus, o mestre de todo o yoga místico, que pode fazer o que bem quiser. Essa é a onipotência do Senhor Supremo. Para alguém que satisfaz o Senhor Supremo, nenhuma conquista é espantosa. Tudo lhe é possível.

Texto

ārādhanaṁ bhagavata
īhamānā nirāśiṣaḥ
ye tu necchanty api paraṁ
te svārtha-kuśalāḥ smṛtāḥ

Sinônimos

ārādhanam — a adoração; bhagavataḥ — à Suprema Personalidade de Deus; īhamānāḥ — estando interessados em; nirāśiṣaḥ — sem desejos materiais; ye — aqueles que; tu — na verdade; na icchanti — não desejam; api — nem mesmo; param — liberação; te — eles; sva-artha — em seu interesse próprio; kuśalāḥ — entendidos; smṛtāḥ — são considerados.

Tradução

Embora aqueles que estão interessados em apenas adorar a Suprema Personalidade de Deus não desejem do Senhor nada mate­rial e nem mesmo desejem a liberação, o Senhor Kṛṣṇa satisfaz todos os seus desejos.

Comentário

SIGNIFICADO—Ao ver o Senhor Viṣṇu, Dhruva Mahārāja se recusou a aceitar as bênçãos dEle, pois estava plenamente satisfeito com o fato de ver o Senhor. Entretanto, o Senhor é tão bondoso que, porque Dhruva Mahārāja, no começo, desejara um reino maior do que o de seu pai, o Senhor o promoveu a Dhruvaloka, o melhor planeta do universo. Portanto, os śāstras dizem:

akāmaḥ sarva-kāmo vā
mokṣa-kāma udāra-dhīḥ
tīvreṇa bhakti-yogena
yajeta puruṣaṁ param

“A pessoa de inteligência mais desenvolvida, esteja ela repleta de todos os desejos materiais, não tenha nenhum desejo material ou deseje a liberação, deve, por todos os meios, adorar o todo supremo, a Personalidade de Deus.” (Śrīmad-Bhāgavatam 2.3.10) A pessoa deve ocupar-se em serviço devocional pleno. Então, muito embora não tenha desejos, todos os desejos que acalentou anteriormente poderão ser satisfeitos pelo simples fato de adorar o Senhor. O verdadeiro devoto não deseja nem mesmo a liberação (anyābhilāṣitā-śūnyam). O Senhor, entretanto, satisfaz o desejo do devoto, concedendo-lhe uma opulência que jamais será destruída. A opulência do karmī é destruída, mas a opulência do devoto jamais é des­truída. À medida que intensifica seu serviço devocional ao Senhor, o devoto se torna cada vez mais opulento.

Texto

ārādhyātma-pradaṁ devaṁ
svātmānaṁ jagad-īśvaram
ko vṛṇīta guṇa-sparśaṁ
budhaḥ syān narake ’pi yat

Sinônimos

ārādhya — após adorar; ātma-pradam — que Se entrega; devam — o Senhor; sva-ātmānam — o queridíssimo; jagat-īśvaram — o Senhor do universo; kaḥ — que; vṛṇīta — escolheria; guṇa-sparśam — felicidade material; budhaḥ — pessoa inteligente; syāt — está; narake — no inferno; api — até mesmo; yat — a qual.

Tradução

A meta última de todas as aspirações de alguém é ele se tornar um servo da Suprema Personalidade de Deus. Se um homem inteligente serve ao queridíssimo Senhor, que Se entrega aos seus devotos, como ele po­deria desejar a felicidade material, a qual está disponível até mesmo no inferno?

Comentário

SIGNIFICADO—Um homem inteligente jamais aspirará a se tornar devoto para alcançar a felicidade material. Isso prova que ele é um devoto. Como Śrī Caitanya Mahāprabhu ensina:

na dhanaṁ na janaṁ na sundarīṁ
kavitāṁ vā jagad-īśa kāmaye
mama janmani janmanīśvare
bhavatād bhaktir ahaitukī tvayi

“Ó Senhor todo-poderoso, não desejo acumular riquezas, nem de­sejo belas mulheres, nem quero um grande número de seguidores. Nascimento após nascimento, quero apenas Te prestar serviço devocional imotivadamente.” O devoto puro jamais pede ao Senhor por felicidade material, sob a forma de riquezas, segui­dores, uma boa esposa ou mesmo mukti. No entanto, o Senhor promete que yoga-kṣemaṁ vahāmy aham: “Voluntariamente, Eu forneço tudo o que é necessário para que se execute o Meu serviço.”

Texto

tad idaṁ mama daurjanyaṁ
bāliśasya mahīyasi
kṣantum arhasi mātas tvaṁ
diṣṭyā garbho mṛtotthitaḥ

Sinônimos

tat — que; idam — esta; mama — minha; daurjanyam — perversidade; bāliśasya — um tolo; mahīyasi — ó melhor das mulheres; kṣantum arhasi — por favor, perdoa; mātaḥ — ó mãe; tvam — tu; diṣṭyā — felizmente; garbhaḥ — o filho dentro do ventre; mṛta — morto; utthitaḥ — ficou vivo.

Tradução

Ó minha mãe, ó melhor de todas as mulheres, sou um tolo. Por favor, perdoa todas as ofensas que eu tenha cometido. Devido ao teu serviço devocional, teus quarenta e nove filhos nasceram ilesos. Agindo como um inimigo, eu os cortei em pedaços, mas, devido ao teu grande serviço devocional, eles não morreram.

Texto

śrī-śuka uvāca
indras tayābhyanujñātaḥ
śuddha-bhāvena tuṣṭayā
marudbhiḥ saha tāṁ natvā
jagāma tri-divaṁ prabhuḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; indraḥ — Indra; tayā — por ela; abhyanujñātaḥ — sendo permitido; śuddha-bhāvena — com o bom comportamento; tuṣṭayā — satisfeita; marudbhiḥ saha — com os Maruts; tām — a ela; natvā — tendo oferecido reverências; ja­gāma — ele foi; tri-divam — aos planetas celestiais; prabhuḥ — o senhor.

Tradução

Śrī Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Diti ficou extremamente satis­feita com o ótimo comportamento de Indra. Então, com profusas reverências, Indra prestou seus respeitos à sua tia e, com a per­missão dela, partiu para os planetas celestiais juntamente com seus irmãos, os Maruts.

Texto

evaṁ te sarvam ākhyātaṁ
yan māṁ tvaṁ paripṛcchasi
maṅgalaṁ marutāṁ janma
kiṁ bhūyaḥ kathayāmi te

Sinônimos

evam — assim; te — a ti; sarvam — tudo; ākhyātam — narrado; yat — que; mām — a mim; tvam — tu; paripṛcchasi — perguntaste; maṅgalam — auspicioso; marutām — dos Maruts; janma — o nascimento; kim — o que; bhūyaḥ — mais; kathayāmi — falarei; te — a ti.

Tradução

Meu querido rei Parīkṣit, no que se refere especialmente a esta pura e auspiciosa narração sobre os Maruts, respondi tanto quanto possível as perguntas que formulaste. Então, podes fazer outras perguntas, e continuarei explicando.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do sexto canto, décimo oitavo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Diti Faz o Voto de Matar o Rei Indra”.