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ŚB 6.16.51

Texto

ahaṁ vai sarva-bhūtāni
bhūtātmā bhūta-bhāvanaḥ
śabda-brahma paraṁ brahma
mamobhe śāśvatī tanū

Sinônimos

aham — Eu; vai — na verdade; sarva-bhūtāni — expandido sob diferentes formas de entidades vivas; bhūta-ātmā — a Superalma de todas as entidades vivas (o diretor supremo e desfrutador delas); bhūta-­bhāvanaḥ — a causa da manifestação de todas as entidades vivas; śabda-brahma — a vibração sonora transcendental (o mantra Hare Kṛṣṇa); param brahma — a Suprema Verdade Absoluta; mama — Minhas; ubhe — ambas (ou seja, a forma sonora e a forma de identi­dade espiritual); śāśvatī — eternos; tanū — dois corpos.

Tradução

Todas as entidades vivas, móveis e inertes, são Minhas expansões e são distintas de Mim. Sou a Superalma de todos os seres vivos, que existem porque Eu os manifesto. Sou a forma das vibra­ções transcendentais como o omkāra e Hare Kṛṣṇa Hare Rāma, e sou a Suprema Verdade Absoluta. Essas Minhas duas formas – a saber, o som transcendental e a eternamente bem-aventurada forma espiritual da Deidade –, são Minhas formas eternas; elas não são materiais.

Comentário

SIGNIFICADO—Nārada e Aṅgirā instruíram Citraketu acerca da ciência do serviço devocional. Então, devido ao serviço devocional, Citraketu viu a Suprema Personalidade de Deus. Prestando serviço devocional, avança-se passo a passo, e quem está na plataforma de amor a Deus (premā pumartho mahān) vê o Senhor Supremo a cada momento. Como se afirma na Bhagavad-gītā, quando alguém, acatando as ins­truções do mestre espiritual, ocupa-se em serviço devocional vinte e quatro horas por dia (teṣāṁ satata-yuktānāṁ bhajatāṁ prīti-pūrvakam), seu serviço devocional se torna cada vez mais agradável. Então, a Suprema Personalidade de Deus, que está no âmago do coração de todos, fala ao devoto (dadāmi buddhi-yogaṁ taṁ yena mām upayānti te). Citraketu Mahārāja primeiramente foi instruído por seus gurus, Aṅgirā e Nārada, e agora, tendo seguido suas instruções, atingiu a etapa em que se vê o Senhor Supremo face a face. Portanto, agora o Senhor passou a instruí-lo na essência do conhecimento.

A essência do conhecimento é que existem duas classes de vastu, ou substâncias. Uma é real, e a outra, sendo ilusória ou temporária, às vezes é chamada de irreal. Devemos considerar essas duas classes de existência. O tattva, ou verdade, consiste em Brahman, Paramāt­mā e Bhagavān. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.11):

vadanti tat tattva-vidas
tattvaṁ yaj jñānam advayam
brahmeti paramātmeti
bhagavān iti śabdyate

“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não-dual de Brahman, Paramātmā ou Bhagavān.” A Verdade Absoluta tem esses três aspectos eternos. Portanto, combinados, Brahman, Paramātmā e Bhagavān são a substância.

São duas as categorias de emanações da não-substância – atividades e atividades proibidas (karma e vikarma). Karma se refere à vida piedosa ou às atividades materiais executadas durante o dia e às atividades mentais oníricas noturnas. De certa forma, essas ati­vidades são desejadas. Vikarma, entretanto, refere-se às atividades ilusórias, que são algo parecido com o fogo-fátuo. Essas são as atividades que não têm significado. Por exemplo, os cientistas mo­dernos imaginam que, através de combinações químicas, pode-se produzir a vida, e estão muito atarefados tentando provar isso nos laboratórios de todo o mundo, embora, na história, ninguém tenha sido capaz de produzir a substância da vida através de combinações materiais. Essas atividades se chamam vikarma.

O que acontece de fato é que todas as atividades materiais são ilusórias, e o progresso na ilusão é um simples desperdício de tempo. Essas atividades ilusórias se chamam akārya, e nos cabe conhecer tais atividades recorrendo às instruções da Suprema Personalidade de Deus. Como se afirma na Bhagavad-gītā (4.17):

karmaṇo hy api boddhavyaṁ
boddhavyaṁ ca vikarmaṇaḥ
akarmaṇaś ca boddhavyaṁ
gahanā karmaṇo gatiḥ

“É dificílimo entender as complexidades da ação. Portanto, deve-se saber exatamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação.” Deve-se aprender isso diretamente com a Suprema Personalidade de Deus, que, como Anantadeva, está instruindo o rei Citraketu devido à fase de serviço devocional avançado que ele alcançou, seguindo as instruções de Nārada e Aṅgirā.

Nesta passagem, afirma-se que ahaṁ vai sarva-bhūtāni: o Senhor é tudo (sarva-bhūtāni), incluindo as entidades vivas e os elementos materiais ou físicos. Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (7.4-5):

bhūmir āpo ’nalo vāyuḥ
khaṁ mano buddhir eva ca
ahaṅkāra itīyaṁ me
bhinnā prakṛtir aṣṭadhā
apareyam itas tv anyāṁ
prakṛtiṁ viddhi me parām
jīva-bhūtāṁ mahā-bāho
yayedaṁ dhāryate jagat

“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego — juntos, todos estes oito elementos formam Minhas energias materiais separadas. Além dessas, ó Arjuna de braços poderosos, existe uma outra energia, a Minha energia superior, que consiste das entidades vivas que exploram os recursos desta natureza material inferior.” A entidade viva tenta assenhorear-se dos elementos materiais ou físicos, mas tanto os ele­mentos físicos quanto a centelha espiritual são energias que emanam da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, o Senhor diz que ahaṁ vai sarva-bhūtāni: “Eu sou tudo.” Assim como o calor e a luz emanam do fogo, essas duas energias – os elementos físicos e as entidades vivas – emanam do Senhor Supremo. Por isso, o Senhor diz que ahaṁ vai sarva-bhūtāni: “Eu expando as categorias físicas e espirituais.”

Também como a Superalma, o Senhor guia as entidades vivas que estão condicionadas à atmosfera física. Logo, Ele é chamado de bhūtātmā bhūta-bhāvanaḥ. Ele concede à entidade viva a inteligência com a qual ela possa melhorar sua posição a fim de voltar ao lar, voltar ao Supremo, ou, se ela não quiser voltar ao Supremo, o Senhor ­lhe outorga a inteligência com a qual possa melhorar sua posição material. O próprio Senhor confirma isso na Bhagavad-gītā (15.15), sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭo mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca: “Eu estou situado no coração de todos, e é de Mim que vêm a lembrança, o conhecimento e o esquecimento.” Internamente, o Senhor provê ao ser vivo a inteligência com a qual se prontifique a trabalhar. Por­tanto, o verso anterior diz que nosso empenho começa após o empenho da Suprema Personalidade de Deus. De maneira independente, não podemos nos esforçar nem agir em nada. Logo, o Senhor é bhūta-bhāvanaḥ.

Outro aspecto específico do conhecimento dado neste verso é que śabda-brahma também é uma forma do Senhor Supremo. Em Sua eterna forma bem-aventurada, o Senhor Kṛṣṇa é aceito por Arjuna como paraṁ brahma. Na fase condicionada, a entidade viva aceita algo ilusório como substancial. Isso se chama māyā ou avidyā – ignorância. Portanto, de acordo com o conhecimento védico, a pessoa tem que se tornar um devoto e, então, deve distinguir entre avidyā e vidyā, que são elaboradamente explicados na Īśopaniṣad. Quem está de fato na plataforma de vidyā pode entender pessoal­mente a Personalidade de Deus sob Suas formas de Senhor Rāma, Senhor Kṛṣṇa e Saṅkarṣaṇa. O conhecimento védico é descrito como a respiração do Senhor Supremo, e as atividades começam baseadas no conhecimento védico. Por conseguinte, o Senhor diz que, quando Se esforça ou respira, os universos materiais passam a existir, e várias atividades se desenvolvem pouco a pouco. Na Bhagavad-gītā, o Senhor diz que praṇavaḥ sarva-vedeṣu: “Eu sou a sílaba oṁ em todos os mantras védicos.” O conhecimento védico começa com a vibra­ção do som transcendental praṇava, oṁkāra. O mesmo som trans­cendental é Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Abhinnatvān nāma­-nāminoḥ: não há diferença entre o santo nome do Senhor e o próprio Senhor.