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ŚB 4.27.1

Texto

nārada uvāca
itthaṁ purañjanaṁ sadhryag
vaśamānīya vibhramaiḥ
purañjanī mahārāja
reme ramayatī patim

Sinônimos

nāradaḥ uvāca — Nārada disse; ittham — assim; purañjanam — rei Purañjana; sadhryak — por completo; vaśamānīya — trazendo sob seu controle; vibhramaiḥ — com seus encantos; purañjanī a esposa do rei Purañjana; mahā-rāja — ó rei; reme — desfrutou; ramayatī — dando toda a satisfação possível; patim — a seu esposo.

Tradução

O grande sábio Nārada continuou: Meu querido rei, após confundir seu esposo de diferentes maneiras e trazê-lo sob seu controle, a esposa do rei Purañjana deu-lhe toda a satisfação possível e gozou da vida sexual com ele.

Comentário

SIGNIFICADO—Após caçar na floresta, o rei Purañjana voltou para casa e, após refrescar-se tomando banho e se servindo de boa comida, saiu à procura de sua esposa. Ao vê-la deitada diretamente sobre o chão, como uma mulher que foi despreza­da, e desprovida de roupa decente, ele ficou muito pesaroso. Então, sentiu-se atraído por ela e começou a gozar de sua companhia. Uma entidade viva no mundo material ocupa-se de modo semelhante em atividades pecaminosas. Essas atividades pecaminosas podem ser comparadas à caça do rei Purañjana pela floresta.

É possível neutralizar uma vida pecaminosa através de diversos processos de religião, tais como yajña, vrata e dāna – isto é, reali­zação de sacrifícios, adoção de um voto de cumprir algum ritual religioso e doações caritativas. Dessa maneira, todos podem livrar-se das reações da vida pecaminosa e, ao mesmo tempo, despertar sua consciência de Kṛṣṇa original. Voltando ao lar, tomando seu banho, comendo boa comida, refrescando-se e buscando sua esposa, o rei Purañjana voltou à sua boa consciência em sua vida familiar. Em outras palavras, é melhor uma vida familiar sistemática, tal como é prescrita nos Vedas, do que uma vida pecaminosa e irresponsável. Se esposo e esposa se harmonizam em consciência de Kṛṣṇa e vivem juntos pacificamente, isso é muito bom. Contudo, se o esposo se tornar demasiadamente atraído pela esposa e se esquecer de seu dever na vida, as implicações da vida materialista voltarão mais uma vez. Portanto, Śrīla Rūpa Gosvāmī recomenda que anāsaktasya viṣayān. (Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.255) Sem se apegarem ao sexo, esposo e esposa devem viver juntos para avançar na vida espiritual. O esposo deve ocupar-se em serviço devocional, e a esposa deve ser fiel e religiosa de acordo com os preceitos védicos. Semelhante combinação é muito boa. Entretanto, se o esposo deixa-se atrair demasiadamente pela esposa devido ao sexo, assume uma posição muito perigosa. As mulheres em geral têm muita inclinação sexual. Na verdade, afirma-se que o desejo sexual da mulher é nove vezes mais forte do que o do homem. Logo, é dever do homem manter a mulher sob seu controle, satisfazendo-a, dando-lhe ador­nos, boa comida e roupas, e ocupando-a em atividades religiosas. Evidentemente, a mulher deve ter alguns filhos para dessa maneira deixar de perturbar o homem. Infelizmente, se o homem se deixa atrair pela mulher simplesmente para gozar de sexo, a vida familiar se torna abominável.

O grande político Cāṇakya Paṇḍita diz que bhāryā rūpavatī śatruḥ: uma bela esposa é um inimigo. Evidentemente, qualquer mulher é linda aos olhos de seu esposo. Pode ser que outros não vejam a beleza dela, mas o esposo, sentindo muita atração por ela, acha-a sempre muito bela. Se o esposo acha a esposa muito bela, deve-se concluir que ele sente muita atração por ela. Essa atração é a atração do sexo. O mundo inteiro está cativado pelos dois modos da natureza material rajo-guṇa e tamo-guṇa, paixão e ignorância. De um modo geral, as mulheres são muito apaixonadas e menos inteligentes; portanto, de algum modo, o homem não deve deixar-se controlar pela paixão e pela ignorância delas. Praticando bhakti-­yoga, ou serviço devocional, um homem pode elevar-se à plata­forma da bondade. Se um esposo situado no modo da bondade pode controlar sua esposa, que está em paixão e ignorância, a mulher se beneficia. Esquecendo-se de sua inclinação natural para a paixão e a ignorância, a mulher se torna obediente e fiel a seu esposo, que está situado em bondade. Uma vida assim é muito agradável. Tanto a inteligência do homem quanto a inteligência da mulher podem então funcionar muito bem juntas, e eles podem efetuar uma marcha progressiva rumo à compreensão espiritual. Caso con­trário, o esposo, caindo sob o controle da esposa, sacrifica sua qualidade de bondade e torna-se subserviente às qualidades de paixão e ignorância. Dessa maneira, toda a situação se corrompe.

Concluindo, a vida familiar é melhor do que vida pecaminosa e irresponsável, mas, se na vida familiar o esposo subordinar-se à esposa, o envolvimento na vida materialista predominará novamente. Dessa maneira, o cativeiro material do homem será revigorado. Devido a isso, de acordo com o sistema védico, recomenda-se ao homem, depois de certa idade, que abandone sua vida familiar e avance para as fases de vānaprastha e sannyāsa.